construções assim tão desoladas de existir?!,
de lá de dentro vem uma voz de loucutor de televisão,
este real que não o é,
é a fingir,
vou continuar, quando quiser parar entro num táxi, digo, - Para a Patagónia, por favor! há muitas maneiras de pensar nesta dor, nesta ferida que tarda em ir, eu digo que é a Primavera a fazer campo na minha dor, no meu luto, eu sei que é a Primavera a chegar, sinto-lhe o cheiro do renovo, faltam-me os vocábulos rústicos, falta-me a terra, penso em perder os sentidos, numa apoplexia do real, perderei primeiro o sentido,
só depois, se for necessário este sacríficio do tangível,
os sentidos,
o cheiro, o olfacto, o paladar, o gosto a hortelã, o toque suave da tua pele, a visão, a vista, o horizonte, a audição, a escuta do sensível, enlouqueço devagar, com candura, perco docemente a razão, elevo morosamente a minha aflição, eu sei que é a Primavera a chegar. Digo-o ao pé do meu amor, digo-o enquanto agarro as suas mãos mais leves que a brisa, são as minhas mãos, as minhas mãos contentes e digo, eu sei, é a Primavera que chega, o seu anúncio, a manifestação da sua força, entro em casa, é este tempo em flor que devo aos meus vivos, devo-lhes uma primavera inusitada, num crescendo de raiva, a espuma, o incenso, a flor, vou cumpri-la devagar, candida, doce e deslumbradamente como uma promessa, um rasto de vida, coisas de vivos.
6 comentários:
Pende das tuas palavras, a doçura, a serenidade.
É a memória da dor. É uma mágoa leve que já não perturba mas ainda incomoda. É o que ainda nos toca quando já deixou de nos sacudir.
~CC~
talvez essa dor é o que ainda nos mantém vivos...pelo menos a mim...
Gosto muito de te ler...tenho saudades de me cruzar contigo na rua...bjs
e eu e o Pedro temos saudades de te ouvir contar histórias no Pequeno Herói...e do Pequeno Herói, claro...
abraço, Mafalda!
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