sexta-feira, abril 25, 2008

1383-85

25 de Abril, a revolução dos outros. Olho para trás e sinto um pequeno embargo de emoção quando conto ao meu filho as histórias da revolução, os seus heróis. Vou guardar os textos que aqui escrevi e oferecer-lhos um dia. Depois olho para a enxurrada de novos baronetes que vieram no arrasto revolucionário, pós-revolucionário, pré-reformista e reformista que se lhe seguiu, constato ainda que a estes novos titulares de uma pequena, média, burguesia se vieram juntar os antigos barões e condes e viscondes. Verifico que se acha natural e curial haver titulares de cargos públicos a auferirem vencimentos escandalosos que são suportados por um apertar do torniquete sobre os rendimentos daqueles que trabalham. Absorvo a ideia de que os jovens estão para os recibos verdes como os velhotes para as reformas indigentes. Olho ainda para a atenção e o empenho com que a coisa pública se entrega à paixão do outro. Não deixo de prestar atenção à forma exemplar com que a especulação atingiu o osso do negócio da exploração do homem sobre o homem. Escondo os olhos sobre esta revolução dos outros. O 25 de Abril já não é a minha revolução. A minha revolução será a próxima. Este blogue não é o meu projecto global mas posso dizê-lo, o mais provocatoriamente que conseguir, o 25 de Abril já foi a minha revolução. Ouço falar no 25 de Abril e lembro-me do Borges Coelho que aprendi no secundário e dentro da minha cabeça ecoa 1385. Também havia burguesia, urros do povo, nobreza entalada, mas foi há muito mais tempo. O que, paradoxalmente, faz com que o mitema revolucionário esteja muito mais fresco, muito mais forte.

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