quinta-feira, abril 10, 2008

O cinema dentro de ti

- E achas que eu ainda pensar nele não é mau?
Sorri. Não sei porque cargas de água ainda alguém me toma por conselheiro.
- Depende.
- Depende de quê?
- Se é bom ou se é mau.
- Ora, não sei porque ainda te pergunto alguma coisa.
Como os mais atentos já repararam eu já tinha chegado a essa conclusão umas linhas acima mas não dei parte de fraco. Ela merece o esforço.
- O que eu quero dizer é, tu sentes-te mal por pensares nele?
- Não.
- Então pensa.
- E isso não é mau?
- Porque haveria de ser?
- Ele já tem outra.
- Mas ele nunca vai saber que tu pensaste nele.
- Não estou a ser desleal?
Dei uma gargalhada.
- Tu não te sentes mal por pensares nele, pois não?
- Não.
- Queres voltar a estar com ele?
- Livra!
- Então, qual é o problema. Tu tens de pensar em alguma coisa. Enquanto pensas nele não pensas no teu patrão, no ordenado a chegar ao fim no mês que ainda agora começou. Pensa nele como se estivesses a ver cinema.
- Eu adoro cinema.
- Eu sei. Já te conheço o suficiente para saber que tu nunca desconfiarias de uma fita.
- É capaz de ser boa ideia.
Deixei-a ao atravessar a passadeira. Só o tempo de lhe pedir autorização para escrevinhar este post, ela anuiu, estava contente. Ainda me acenou, agradecendo-me, enquanto eu subia a Rua do Carmo a pensar nas minhas imagens interiores, no meu cinema de trazer por casa, nesta fina e reticular película entre nós e a realidade.

1 comentário:

Isabela Figueiredo disse...

Ah, Quim, o que eu precisava assim dum homem compreensivo. Mas, pronto, esquece, e tal, que eu sei que já estás apanhado. :)
Vim cá para te dar um recado e acabei por dar por mim a ler os teus postes, que bom. Olha, diz lá ao Luís Graça que eu vou publicar uma selecção de poemas dele no Mundo Perfeito, todas a semanas, e que eu quero transformá-lo no poeta culto do meu blogue, no poeta oficial, e que isso é uma coisa séria. Ok?
Beijos.