Há uns tempos, aproveitando uma viagem da mãe, ele ficou comigo uma semana inteira com idas ao colégio incluídas. Tinha que respeitar os horários do deitar mas por vezes fazia umas pequenas aventuras. Como naquele dia em que fomos ao teatro de objectos, um espectáculo integrado no FIMFA. Era um pequeno espectáculo, para maiores de 12 anos, às 21h, às 22h e às 23h, na sala estúdio do Teatro da Trindade. Era o O!, protagonizado por uma actriz (e criadora) e por um actor/ músico que durava apenas vinte e cinco minutos. Sentados a uma mesa colocada diante dos espectadores os dois actores, com pequenissimos objectos e brinquedos contavam a história de um par de noivos em NY. Quando lhe propús a ida ao espectáculo ficou muito contente. E eu, tão irresponsável, nunca me lembrei que era para maiores de 12. Quando cheguei ao teatro encontro o pai de um amigo dele, que tinhamos acabado de convidar mas que não podia ir, que me diz com ar surpreso:
- Mas vais com ele?- e perante a minha cara de espanto - É para adultos!
Só aí realizei que estava a cometer uma grande imprudência. Ainda lhe fiz uns gestos para lhe perguntar se teria alguma coisa obscena ou forte e ele, sossegando-me lá me disse que não, é que era em inglês e francês.
Na plateia era a única criança. Ficámos logo na primeira fila, sem alguma possibilidade de recuo ou de saída. E correu tudo bem. A história era muito linear e era entendível para uma criança, como me apercebi depois. É claro que passei por um calafrio quando a vinte minutos do espectáculo ele me começa a fazer algumas perguntas mas só tive de lhe dizer que depois falávamos. E assim foi. No caminho para casa tirámos as cascas a esta pequena história passada na cidade da grande maçã e ele adormeceu tranquilamente.
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