Aqui há uns anos houve um sururu danado sobre os Artistas Unidos: o Espaço Capital ía para obras, estava impróprio para consumo e os Artistas Unidos ficavam na rua. Assinei, reassinei, escrevi posts, fiz o que qualquer pessoa minimamente interessada na actividade teatral devia ter feito, acompanhando o movimento de solidariedade em torno dos Artistas Unidos. Anteontem estava na esplanada e em jeito de conversa dizem-me - nem vos conto a novela em que esta conversa veio alapada - que os Artistas Unidos tinham sido extintos, acabado. Não quis acreditar. No dia seguinte voltam-me a confirmar isso, através de uma pessoa que costuma colaborar com os Artistas Unidos. E à noite a confirmação de que um responsável dos Artistas Unidos teria telefonado para um espaço que os iria acolher a cancelar a projectada apresentação de um determinado espectáculo porque os Artistas Unidos íam encerrar a sua actividade. Segundo o que me contaram isto já se teria passado há cerca de uma semana e pouco. Estou perfeitamente chocado. Não sei se aquele chá de hortelã que tomei há dias tem qualidades alucinogénicas, mas há aqui qualquer coisa que me soa muito, muito mal: como é que é possível um grupo como os Artistas Unidos acabarem e não haver uma ressonância pública? Uma notícía no Público? Ou no Expresso? Na Visão? No Diário de Notícias? Na televisão? Na rádio? Onde andam os jornalistas de cultura? Os Artistas Unidos desenvolvem uma missão de (elevado) interesse público e nessa missão absorveram milhares e milhares de contos, pelo que é do mais elementar interesse público saber o que se passa com um dos mais importantes projectos teatrais da nossa actualidade teatral. Espero urgentemente que Jorge Silva Melo e os Artistas Unidos venham esclarecer que é apenas um boato.
---- Deixei de esperar. É trágico para o teatro português de hoje mas infelizmente a notícia confirma-se: os Artistas Unidos abriram falência. Sinto uma raiva tão grande que é melhor calar-me. É preciso que muita gente que está em sítios chave falhe para que isto possa acontecer: falta proactividade à burocracia pública no campo das artes do espectáculo. As pessoas ganham com a idade um déficit de pachorra e isso deve ser respeitado. Não são os coitados dos Jorges que substituem o Estado onde ele não está que têm de andar a fazer choradinhos para poderem ir para a frente com os seus projectos. Enquanto o rei da Noruega lhe dá uma medalha de mérito cultural nós damos-lhe um projecto teatral no prego. Os Artistas Unidos deram mostras ao longo destes anos de um dos mais brilhantes inconformismos. Dos novos grupos nascidos na década de 90 são o nosso património mais significativo no campo do trabalho sobre a dramaturgia contemporânea, portuguesa e europeia. Trouxeram-nos autores, editaram-nos, fizeram publicações, desfizeram-se em iniciativas paralelas e de animação cultural e, essencialmente, fizeram teatro, excelente teatro, uma das mais importantes produções teatrais do nosso país. Há pessoas que neste momento deviam pôr os seus lugares à disposição por esta incapacidade de resolverem este problema. José António Pinto Ribeiro se fosse consequente com o que disse na entrevista a Ana Lourenço na SIC Notícias da contratualização de missões de interesse público devia vir pedir desculpas públicas. Sou emotivo, estou triste, apetece-me chorar, talvez não esteja a ser justo, estas coisas têm meandros que por vezes desconhecemos, mas hoje vou para a cama mais pobre, mais entregue aos negócios e com menos espaço para antever na vida que vivo uma outra vida.
7 comentários:
Parece um país sem memória...as coias acabam, simplesmente, e ninguém se importa muito.
Ando tão longe da vida de sempre que fiquei chocada com o que aqui contas, Quim. Os Artistas Unidos fizeram muito pela cultura teatral em Portugal. Deram a conhecer dramaturgos de primeira, como Spiro Scimone, a Sarah Kane, o Jon Foss... e tantos outros que ninguém conhecia e que, através deste colectivo, chegaram a todos os que se deram ao trabalho de os ver. Até os preços eram convidativos.
Desde que deixei o jornalismo fui-me afastando dos AU e do Jorge, mas vivi com eles momentos de grande cumplicidade que nunca esquecerei.
Obrigada Jorge!
Não meus caros, não abrimos falência nem desaparecemos. os tempos vão dificeis mas estamos apenas a refazer os nossos planos de programação para a temporada 2008/9, em que continuamos sem local de apresentação para os nossos trabalhos.
até breve.
Daremos notícias.
João Meireles (Artistas Unidos)
Acabei de contactar um amigo ligado aos AU, que me confirmou que a companhia não vai acabar. Os AU mantêm-se activos.
... estava a falar ao telefone quando escrevi o comentário e não me apercebi do esclarecimento do João Meireles.
Mas um Belo Númaro dos Artistas Unidos... quem não chora não mama ...
O JSM sabe ir por atalhos ... é altamente eficiente ... E isto é um elogio! Claro.
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