sábado, fevereiro 28, 2009

Absortos

Cruzei-me à pouco com o meu amigo do Absorto. Já de saída da conversa lembrámos-nos do nosso último tema comum, a blogosfera. Que andamos os dois absortos com outras coisas. Tenho pena de não ter tempo para passar aqui mais tempo. Há coisas a acontecer todos os dias e este jornal intimo e pessoal permite-nos partilhar e construir evidências comuns. Voltarei em breve, aqui, à Olivesaria, a todos os lugares onde a feira franca da expressão me permite, como diz a Helena, escrever freneticamente. Tenho milhares de posts pendurados à porta do blogue. Centenas de fotografias em lista de espera no telemóvel, lembram-do-me de um post, de uma ideia. Eu não sei como vos garantir que continuo a fazer parte desta comunidade senão afiançando-vos que somos também o que não escrevemos. A verdade é que montar o espectáculo "O Lugarzinho no Céu" me consumiu todos os tempos visíveis e invisíveis. Foi um lugar de intenso afecto e teimosia. Tanto dos meus companheiros reais mais directos, a assistente de encenação, os actores, o músico e pianista e os meus companheiros ficcionais, o Mirov, o Casimiro, o Fidélio e a Anunciada. É um privilégio viver ao pé do teatro. Mortos tantos mundos dentro de mim digo, para que nunca mais me esqueça, é um privilégio de humanos viver dentro do teatro. O teatro não é um palco. É um lugar. Onde se vive. Vive-se uma vida outra e depois volta-se a uma mesma vida, desmesmificada por esta pequena aventura não quotidiana, extraordinária. No teatro não são os actores que fazem de outros. Também os espectadores fazem de outros quando aceitam que o Filipe Luz seja Mirov, um ucraniano. A sacralização do actor é uma forma de estar no teatro mas não é nem a forma de estar no teatro, nem o próprio teatro. O teatro é uma aventura ética. Uns e outros predispõem-se a uma estranha liturgia não confessional: a experiência da alteridade.
(Imagem: Mirov e Fidélio. Foto de Daniel Lobo Antunes)

3 comentários:

Anónimo disse...

Criar o nosso Lugarzinho foi uma tarefa absorvente, uma viagem divertida tanto quanto consumidora de energia e tempo durante meses. No dia da primeira apresentação foi curioso sentir que a criatura já não me/nos pertence, toca agora aos actores viver e gozar aquilo para que trabalhámos tanto, todos. Foi muito bom estar ao teu lado na descoberta destes personagens e da sua ocupação do espaço e dos afectos. ObrigadOS Joaquim!

Anónimo disse...

Quim,
break a leg!

Mónica (em Campanhã) disse...

ouvi há 2 dias a tua voz na Antena 1, sobre isto. a voz do respirar.