quarta-feira, abril 15, 2009

O amor é o contrário de estar morto

Há muitos dias que ando para escrever sobre o amor que sinto por ti.
Estaco sempre o passo, a mão. A própria pena, é como se a
minha mão se transmutasse, transfigurasse e lhe nascesse nas extremidades
um bico de pato.
Como se de repente o amor fosse coisa antiquíssima.

Tu saberás o que dizem estes sinais
que me deixam radiante outra vez,
e outra vez,
e ainda outra vez.
E nos dias que ando para escrever o amor que sinto por ti,
as minhas noites fazem-se de vigília.
Acontece acordar apenas para te olhar,
e nesse olhar haver um gesto,
um sussurro,
um apelo,
para que não morras,
para que não morras nunca,
para que fiquemos sempre os dois,
tanto na morte como na vida,
um diante do outro.
E pela noite escurada
no teu rosto revejo a minha face,
a minha vida,
como se ele fosse um espelho,
onde prevejo o futuro que já não tenho,
uma caixa onde está a minha vida,
toda a minha vida,
a que já foi, a que virá.
E antes que me perguntes
pelo meu silêncio,
nos dias que ando para escrever o amor que sinto por ti,
é o medo da vulgaridade que me sustém
como se eu não pudesse mais pensar no amor sem sentir a cobra, um fogo entre
as pernas. Na forma como tu és para mim e dentro de mim.
Pensei apenas naquele sabor doce com que mordisco e
mastigo
uma e outra e outra e outra e ainda outras milhares de vezes,
o pequeno grão que exuberantemente se constitui alimento do meu próprio corpo,
da minha própria vida.

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e
e
e
e

[depois de responder a um quiz sobre que companhia de teatro és tu (artistas unidos, voilá Jorge!) em que sobre o amor a opção irrecusável era, " o amor é o contrário de estar morto"]

1 comentário:

Camilon disse...

"Ficarei para sempre ligada a ti,
o meu corpo escaldante na minha forma nua,
como o dia ao sol e a noite à lua."