Devo ter uma estranha doença: olho para os espelhos e desconheço o idiota que está à minha frente mas depois vejo o meu filho a descer as escadas para o quintal e vejo-me eu, eu tal e qual, na Ada-Pera, e de repente tudo o que me envolve, o fim de tarde, as conversas dos vizinhos do quintal ao lado, parece-me tão familiar e aconchegante, tão dentro de um tempo onde as horas falam de nós, nós que descemos as escadas, que nos esparramamos no sofá a ler um livro - agarrou-o antes do banho e depois do jantar disse-me, já li o livro todo, tinham-mo dado nos anos, gostou muito, falava de invasores e tinha muitos desenhos coloridos - e nós que nos amamos contra o vento.
Devo ter uma estranha doença que espero, seja incurável e, se possível, pandémica.
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