Um homem e uma mulher um diante do outro, penso eu, enquanto me dedico a um pequeno instante de introspecção, são um mundo dentro de um outro mundo, como uma daquelas bonecas russas. Não falo sobre a mitologia dos afectos, a arquitectura dos corpos, a política das identidades. Falo apenas do fazer, do ser. E claro que poderia ser um homem diante um outro homem, ou uma mulher diante de uma mulher. Não estou a fazer filosofia. Eu disse, um pequeno momento de introspecção. E pensei na beleza que existe no momento em que um homem está diante de uma mulher, em que uma mulher está diante de um homem. A beleza humana comove-me e eu sou formado por desertos onde gesticulam oásis plenos de lágrimas interiores a que nunca dei nome. A vida de um torna-se, sem querer, despercebidamente, o espelho da vida do outro. É por isso que as nossas vidas tão frequentemente não dão certo. É preciso uma grande dose de sorte, de tempo, de fortuna, de saber reconhecer que estamos a passar por estas coisas quando passamos por elas, para que a superfície rugosa, opaca, que é uma alma e o seu comportamento, adquiram essa possibilidade de cristal, de transparência, onde o outro se revê como não antes o conseguira.
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