quinta-feira, maio 21, 2009

O enfermeiro, a administração e o Presidente

Nesta história do enfermeiro a quem foi instaurado um processo disciplinar por ter escrito ao Presidente há qualquer coisa de absurdo e surrealista que a Ministra de Saúde devia rapidamente esclarecer, ou mandar esclarecer, já que o facto de um cidadão se considerar à mercê do episódio ou fenómeno mais kafkiano não abona em nada o Estado nem instiga à confiança que devemos ter nele.
Primeiro, pelas gordas que transpiraram para o jornais, a concepção autoritária da administração do hospital está patente ao público não através da carta que o referido enfermeiro escreveu a um orgão de soberania, sim através da divulgação do processo disciplinar de que foi alvo com vista ao despedimento, veja-se!!!, ou processo crime.
Depois, não compreendo a atitude do Presidente da República. É preciso que ele diga porque é que não intervém já que é um abuso de confiança a instauração de um processo por causa de uma carta que uma pessoa escreve a outra, independentemente de ser o primeiro magistrado da nação (o que só agrava a situação). Estou chocado. Eu acho que estas pessoas não percebem o significado nem a vantagem democrática que tem, numa república, uma pessoa poder dirigir-se livremente ao primeiro português. Eu já decidi. A partir de agora se tiver de alguma vez me dirigir a alguém, seja o meu chefe, o chefe do meu chefe, mesmo o chefe de todos os chefes para uma denúncia só através de cartas anónimas. Não vejo como possa confiar nestas pessoas e de pensar que estão à altura da República que administram.
Estou verdadeiramente chocado.

6 comentários:

Rui Mota disse...

Não devias estar chocado, Passou-se o mesmo comigo no Inatel. E com "socialistas" também, por coincidência. Ora, como eu não acredito em coincidências, podes tirar as conclusões que quiseres...

JPN disse...

Não devia?! Mas estou. Podes tirar também as conclusões que quiseres.

Rui Mota disse...

As minhas conclusões são simples: não te mostraste chocado quando me puseram um processo disciplinar por eu escrever uma carta à direcção. Qual a diferença?
Vivemos num país de mentalidade de caserna e era bom que as pessoas "chocadas" tivessem consciência disso e não reagissem apenas em função dos seus interesses.

JPN disse...

Rui Mota,
de tempos a tempos vens por aqui com aquele azedume que tão bem te conhecemos para te manifestares contra mim. Não sei bem porquê, depois percebo que é porque achas que eu sou um protegido dos "socialistas" com aspas e que por isso engulo sapos, camelos e bisontes. Não é verdade, como tu bem sabes, a única protecção que tenho usado é a minha capacidade de me reinventar funcionalmente e a minha boa capacidade digestiva reservo-o para enfrentar acidez daqueles por quem tenho amizade.
É claro que estas vindas tuas aqui, que podiam ser momentos amáveis, se transformam em momentos desagradáveis, porque o blogue é uma coisa pública e por aqui passa muita gente que não sabe do que estamos a falar.
Ao principio tentei o registo cordial mas foi impossível.
E claro que jogas com o teu mau feitio a teu favor, e assim poucos têm a coragem para te dizer aquilo que pensam: entraste para aqui através de uma comissão de serviço com a confiança política dos tais socialistas (não sei se já tinham aspas) e foste afastado por eles porque perdeste a confiança política e funcional dos mesmos. Esse processo que é legítimo (1) foi no teu caso dirigido de uma forma tão leviana, e por um motivo tão incongruente, que te porporcionou, facilmente, o direito de, em sede de justiça, moveres um processo em que, no seu decorrer, chegaste a acordo judicial. Ainda em relação a isso, acharia lamentável que te tenhas esquecido que me ofereci para tua testemunha de defesa se de ti já esperasse alguma coisa mais do que azedume. Ditas assim as coisas, chega a ser ofensivo, e sinal de um egotismo desmedido, que te compares ao enfermeiro.

Espero que sejas muito feliz no país das túlipas e que te nasçam flores na cabeça.


(1) O que me desgosta como sabes é que funções como aquelas que tu exerceste, que deviam ser eminentemente técnicas, sejam ainda muitas e demasiadas vezes objecto de confiança política.

Rui Mota disse...

Não quero monopolizar a caixa de comentários, mas devemos ser honestos intelectualmente: NUNCA te ofereceste para minha testemunha e é por isso que eu reagi. Só por isso.
Posso ter mau feitio (nunca gostei de agradar a gregos e a troianos!), mas não me podem acusar de hipocrisia.
O que tu nunca compreenderás (dai a tua alusão à Holanda das tulipas) é que existem países onde a competência vale mais do que a fidelidade. Percebes, ou é preciso meter explicador?

JPN disse...

Para sermos honestos intelectualmente: ofereci-me mas também te esclareci que embora achasse um disparate a gota de água que tinha transbordado o copo não seria a melhor testemunha para a tua defesa porque também achava que tu tinhas tido grandes responsabilidades no encher do copo. A minha alusão ao país da túlipas é só porque me disseram que voltavas para lá.
E por mim aqui me fico e se quiseres escrever mais sobre o assunto, fá-lo no teu blogue, por favor.