Não sei se é ele, se é o tempo, que conspira, e, ambos, a meu favor. É já muitos dentro de mim. Desde aquela pequena bola rechonchuda que eu agarrava e levantava no ar, com os dois braços esticado, os dois a rirmo-nos, até ao Peter Pan, ou ao meu parceiro de bola; áquele que me dá conselhos de vida, o que já fez o luto da sua ideia de pais juntos e enfia o braço no braço dela; o que já me deixa namorar com ela sem nos vir abraçar aos dois, com medo de ficar de fora, até ao mais recente, o que escreve e canta canções com trejeitos na voz que imita sei lá eu onde. Ou o que já criou um endereço gmail, o que me manda milhares de emoticons numa única frase que diz, porque é que não estás aí, pai?. O que ainda há pouco tempo dizia, o meu pai é muito bom a jogar à bola e que ontem, quando um amigo dele me perguntou se eu sabia quantos metros tinha uma baliza de futebol, antes de eu responder, ajuizou logo, o meu pai não percebe nada disso, obrigando-me à desforra de ter de dizer em que lugar do campeonato é que estavam o Benfica, o Braga, o Sporting e o Porto, coisa em que falhei redondamente. Por vezes não sei onde vive. No reino de Bakugan, onde cada linha de código é uma história que ele fantasia, no seu colégio de meninos-protegidos-do-real-a-sério (mas não estamos todos?!), no seu quarto onde crescem peixes, na sua mesa de cientista onde faz trabalhos e perguntas cada vez mais complicados, não sei.
Não é literatura ou é a literatura a fazer de vida: há um não-saber que sei cada vez mais.
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