quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Orlando Zapata Tamayo, 1967-2010

Orlando Zapata Tamayo, que morreu ontem no hospital Ameijeiras, em Cuba, tinha menos cinco anos do que eu. Foi este o meu primeiro movimento para tentar compreender Tamayo. Depois li o seu curriculo prisional: foi preso desde 2002 e desde essa altura passou quase toda a vida na prisão. Para se ter ideia dos crimes que cometeu, em 2003, depois de ter passado um ano na prisão por ter manifestado a solidariedade com outros presos politicos, terá sido sentenciado a uma pena de 18 anos de prisão (li também num blogue, 36 anos) por ter participado numa greve de fome colectiva.

Orlando Zapata Tamayo, 42 anos, era membro da Movimiento Alternativa Republicana e do Consejo Nacional de Resistencia Cívil. Dizem as notícias - mas as notícias dizem todas a mesma coisa! e fazem dizer todas a mesma coisa! - que desde a morte de Pedro Luis Botel em 1972 não morria nenhum opositor do regime numa prisão de Cuba, por causa de uma greve de fome.

Ponho-me a perguntar: o que colocou este homem, um operário na altura com 34 anos, em rota de colisão com o regime de Castro? Qual foi o momento e como é que se tornou clarividente para ele que a sua vida estava traçada? Um ano depois de ter sido preso terá dito à saída da prisão que não iria pedir um visto para ir para os Estados Unidos e que voltaria em breve, porque iria continuar a lutar pelos seus companheiros presos. Tanto em 2002, como agora, Orlando Zapata Tamayo ( dá-me alento moral pronunciar os nomes dos meus heróis por extenso) deixou de ingerir alimentos para protestar pelas condições dos seus colegas presos politicos e ...porque queria vestir roupas brancas.

É todo um programa de luta e de vida que me impossibilita de compreender o drama de Orlando Zapata Tamayo. Curvo-me diante da sua grandeza, fico a ouvir a voz da sua mãe, a perceber nela uma ressonância com a coragem e determinação do filho, mas não sei se posso, genuinamente, compreendê-lo. Poderia dizer que compreendo. Mas não sei se isso é verdade nem se será muito honesto. Há algo de misterioso no percurso deste homem que eu não consigo preencher.

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