quarta-feira, março 17, 2010

O espaço das coisas

Ela fala assim das minhas tralhas. Apetece-me barafustar, dizer que eu não sou assim. Manobra de diversão pura. Um escritório para mim não é uma divisão. É uma caixa. Com estantes e muitas caixas dentro. Julguei há uns dois anos que ao comprar uma data de caixas para arrumar as coisas, estava a arrumar as coisas. Não estava. Estava a metê-las em caixas e depois a estas metia-as numa caixa maior. Mas há sempre coisas que ficam fora das caixas. Eu podia dizer que o tempo me ensinou que não valia a pena andar a transportar lixo de umas casas para outras. O tempo e muitas mudanças de casa. Mas a verdade é que ainda não consigo olhar para as coisas no mesmo momento que ela. Quando olho para as minhas caixas, as minhas tralhas, os meus caixotes, vejo o que eu era há uns anos e claro que estou diante de um universo que tende para a organização e a simplificação. Quando ela olha para o escritório, olha para a sua casa anterior de estremece diante de um mundo que se aproxima a passos largos da entropia. Apaixonei-me por uma virginiana pura e agora percebo que o difícil é colocarmo-nos no ponto de vista do outro. O escritório está organizado atrás, aos lados de mim mas eu estou apenas com este écran e ele branco, alvo, limpo, as letras alinhadas em frases, linhas, tudo me parece geometricamente equilibrado. Este fim de semana vai ser de arregaçar as mangas.

2 comentários:

Doramar disse...

Será sempre difícil desapegarmo-nos das coisas que pertenceram a quem amamos :-)

Anónimo disse...

O que já me ri com este seu post. Aqui em casa existe um carneiro com um escritório parecido com esse, a diferença é que as tralhas nem em caixas estão metidas. Prateleiras, secretária e até o chão, encontram-se tão bem utilizados que a nossa querida empregada tem ORDEM de não tentar limpar, a porta está fechada. O único problema é que nem ele consegue utilizar o espaço, o caos ganhou-lhe :-)

Assinado: outra virginiana