Da agenda futebolística aquilo que espero ainda ir a tempo de desfrutar é do quilo de camarão mais a cerveja de pressão, um oferta pingo doce para os adeptos do sofá. Sem vuvuzelas nem outros artifícios. Que gosto de cerveja, imperial, mas como bebo pouco e a espaços, ela só tem graça no primeiro dia, porque depois parece uma água choca deslavada. E como não tenho comprado jornais, desliguei da agenda política também. Eu sei que a direita vem aí, eu sei que a direita gosta de embalar os tempos com o síndrome da crise anunciada para reforçar a sua proverbial providencialidade, mas já me restam poucas dúvidas de que José Sócrates desceu drasticamente os níveis da sua auto-estima e já não tem energia anímica nem para se reinventar politicamente (a possibilidade de ter sido alvo de um assassinato político, partindo de uma complexa articulação de poderes não eleitos, deve continuar a merecer a nossa atenção, mas não confundamos os seus dramas pessoais com os nossos) , quanto mais para liderar a vida de um país que está a braços com uma das piores crises económicas, porque global, a que pude assistir. Quando o vi em imagem de Estado com Ricardo Rodrigues, numa ronda de conversas com os partidos, tive a exacta percepção de um homem que perdeu a noção do que é que cada um de nós espera da política, do Estado. Era assim Cavaco no fim da linha do Cavaquistão. Agarrando-se desesperadamente ao autismo sobre as desgraças que caíam sobre os seus desastrados companheiros de governo soçobrando contra as investidas do Independente. Não percebendo que, montagens e armadilhas jornalísticas àparte, o povo - o demo, essa entidade que oscila entre o demónio, o inferno e a comunidade redentora da nossa melhor vida - necessita de poder acreditar na sua república, na sua democracia e que isso, essa crença, essa disponibilidade, é um dos seus melhores activos. Agendas para que te quero. Agarro-me ao meu moleskine, a duas reportagens que tenho entre mãos, a política é outra coisa, falaremos disso nessa altura, nesse novo tempo.
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