quinta-feira, agosto 26, 2010

No dia 28 de Agosto 100 cidades de todo o mundo vão erguer-se contra a lapidação. Sou contra a pena de morte e sendo a lapidação uma forma de condenação à morte, estou absoluta e convictamente contra a lapidação. Não há nenhum relativismo cultural que me coloque o mínimo constrangimento em relação a isso. E se não estiver lá, em pessoa, na Praça de Camões, onde estou quase todos os dias, será só mesmo por causa de uma enorme perguiça cívica de fim de semana de verão, e esse esperguiçar-me não me limita em nada o dizer que estarei lá, em espírito, inequívocamente. Sou também contra a selvajaria com que alguns costumes ancestrais tratam aquilo que convencionam chamar crimes de costumes. Sou também inequivocamente contra a mutilação genital feminina praticada em algumas sociedades humanas. Não há ainda nenhum relativismo cultural que me coloque o mínimo constrangimento em relação a isso.
Se não é nenhum relativismo cultural que me impede de me associar a qualquer luta contra estas práticas de horror - e confesso que o meu apego pela diversidade cultural me leva a zonas limite em relação àquilo com que posso ou não contemporizar - também não seria o facto de não ser muito claro que a bandeira da concentração seja contra a condenação à morte, e não apenas a um determinado tipo de bárbara execução da condenação à morte, que me poderia fazer hesitar em me associar a esta concentração. É claro que eu penso que seria muito mais proveitoso para a luta contra a pena de morte que ela fosse alargada a todos os outros países que a executam, independentemente dos meios que utilizam para a executar. A execução da pena de morte é sempre um acto bárbaro, em qualquer paralelo ou meridiano. É claro também que este associar da selvajaria à República Islâmica do Irão - um regime autoritário e ditatorial onde as garantias de defesa não são plenas - tem uma conotação política inegável, que a seu tempo poderá vir a manifestar-se muito oportuna para a colocação do Irão numa modalidade de eixo do mal mais civilizada e mais adequada e consentânea com a abertura manifestada pela retórica obamista. Isso não afecta em nada a minha posição. Era só o que me faltava ter de me conter na denúncia da barbárie por causa de algum tipo de relativismo político.
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