A posição da secretária foi consensual entre nós dois. Permite ver uma nesga de rio, os paquetes de luxo, um pouco da estação de caminhos de ferro. Em frente a estante. Não são muito resistentes as do Ikea. Vão-se dobrando com o tempo. Os títulos diante de mim são tão sugestivos como a janela e tanto a estante, como a janela, perdem para essa outra window, a do facebook.
Vou desistir de dar tanto tempo ao facebook. O meu espaço natural é a blogosfera. É aqui que eu gosto de escrever, sempre foi. Provavelmente afeiçoei-me a este meio. Mais por vezes é menos. Gosto de ver os textos do Mora Ramos, sabe-me muito bem ir de tempos a tempos seguir as conversas inteligentes que António Pinho Vargas consegue ter com os seus amigos, é sempre delicioso ir ver o Paulo Pena a dar largas à sua paixão crítica pelo jornalismo, ou a Catarina Martins a defender as nossas causas comuns da cultura, mas em grande parte sinto-me algo desconfortável com o tipo de comunicação que este meio promove. Os likes, as aplicações, as causas, tudo isso me parece um esvaziar-me num conjunto de protocolos que não domino bem. A verdade é, não quero dominar. Gosto dos posts curtos que me permitem falar das bolachas de gengibre e canela, é um meio muito mais intuitivo no modo como faz partilhar a informação, mas excepto uma meia dúzia de casos de pessoas que conseguem utilizar a aplicação para um debate de ideias que me interessa, não me seduz. Eu próprio ando há dias para colocar em debate uma data de coisas que me apoquentam. E nada. Não consigo. Saber que vão ser lidas por setecentas e tal pessoas de universos tão diferentes como os meus grupos de escola, de bairro, amigos de rua, de prédio, ou pessoas que apanharam um texto meu aqui ou acoli e que me pediram para ser meu amigo ( ou pessoas a quem eu fiz exactamente o mesmo), apoquenta-me tanto como as coisas que, por me apoquentarem, pensei em trazer aqui.
Eu não gosto de dizer estas coisas assim - porque é um discurso muito permeável à ambiguidade - mas o facebook parece-me aliás uma coisa muito perigosa enquanto conformação de comunidades massificadas, condicionadas comunicacionalmente por dispositivos que escondem a manipulação que operam.
E ainda por cima com uma investigação à perna, vou ter de começar a ser menos anárquico, gerindo a minha participação nestas redes sociais. Até porque tenciono também utilizá-las, tanto na versão facebook como na versão blogue, para criar uma pequena comunidade de pessoas, em Portugal e não só, interessadas no desenvolvimento da escrita teatral portuguesa. Estou ainda a pensar em como o fazer, mas a coisa deverá passar por tentar migrar todos aqueles que são meus amigos ou conhecidos por causa das coisas do teatro, da escrita e da cultura, para o facebook Escrever para Teatro em Portugal, mantendo no meu facebook pessoal uma pequena comunidade restrita de amigos.
2 comentários:
Eu continuo a gostar da blogosfera, privilegiadamente, mas devo dizer-te que o FB tem algumas vantagens embora o possa controlar muito pouco (apenas os amigos que aceito e aquilo que permito que vejam e leiam - sem grandes certezas). Gosto, no FB, da possibilidade de estar a ser informada sobre tudo o que me interessa. Se for amigo dos livreiros, companhias de teatro, revistas, jornais, movimentos que me interessam, vou recebendo todas as suas atualizações, e isso agrada-me, essa função de jornal.
Beijinhos, Joaquim Paulo.
Tens toda a razão sobre as vantagens do facebook, como eu também acho que tenho algumas razões sobre as suas desvantagens. É por isso que me surgiu a necessidade de gerir a minha relação com estas redes para me permitir tirar o melhor partido delas. Beijinhos, Isabela e bom natal.
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