" Isto faz-me lembrar um pequeno texto de Samuel Becket que o Espaço das Aguncheiras (pela mão da São José Lapa e do Alberto Lopes) montou recentemente e onde três mulheres sentadas num banco só falam em duetos, sempre na ausência de uma terceira. Neste caso o importante é perceber que os partidos de esquerda (onde incluo o PS) começaram a mexer-se para fora dos seus apoios parlamentares de base e estão a perceber que se não disserem ao eleitorado que querem responsabilizar-se por governar a nossa vida, vão sofrer grandes decepções eleitorais.
Costuma-se dizer nas teorias de comunicação que comportamento gera comportamento e é necessário em algum momento romper o padrão de comportamento. A ideia de um governo patriótico de esquerda é abstrusa porque não tem o PS? O que me interessa é que uma ruptura de comportamento com a ideia da esquerda (que não o PS) ficar a gerir o seu comportamento dentro de uma politica de protesto e não dentro de uma politica que se responsabilize perante o eleitorado por governar o país é decisiva neste momento. Se foi o PCP que deu o pontapé de saída, boa, ao contrário do que tu dizes não temos apenas dois meses. Temos também dois meses, uma quantidade de dias ( e noites). Agora a bola está no PS. Mesmo imaginando que o Partido Socialista terá dificuldades acrescidas neste momento em gerir internamente esta abertura à esquerda quando as suas últimas propostas das dinastias PEC eram claramente aquilo que a direita europeia impôs, o que me parece é que o próprio PS perceberá que terá a ganhar com o campo de clarificação da esquerda em torno de algumas poucas questões.
Acho que está a ser cometido um erro fundamental nesta avaliação toda que por vezes fazemos sobre as consequências da ideia que cada partido de esquerda tem sobre quem é ou não de esquerda: quem decide se quer ser ou não governado à esquerda ( e com isso resolve de uma assentada quem é ou não de esquerda) é o eleitorado .
A esquerda só precisa de definir um programa que contenha uma visão de esquerda sobre o que fazer em relação a uma meia dúzia de questões essenciais:
Há Europa ou há apenas Alemanha? Há dinheiro do BCE mais barato para ajudar os Estados ou há apenas dinheiro para aumentar a especulação financeira junto dos Estados? Vamos bater-nos por uma agência europeia para notação da dívida e regulamentar esta actividade ou vamos deixá-la em livre curso dando notas de bom e mau comportamento conforme os seus interesses? Vamos defender o Estado do ataque neoliberal (e defender o Estado passa por aceitar que é tão necessário defendê-lo das ideias que o negam como daquelas que, achando-o inatacável, o deixam tornar-se num monstro!) ou vamos deixar que nos tornem nuns meros pagadores de impostos e dívida?
Se o PCP e o BE o fizerem é já um excelente passo. Em frente.
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