Acordei com uma dúvida: vou à manifestação ficando em casa ou indo para a rua? Estava a pensar ir, revejo-me neste movimento internacional, mas como já escrevi, o último comunicado dos promotores tirou-me a vontade de ir. A actualidade das declarações de Passos Coelho trouxe ao de cima uma questão de política interna que não me parece tão sedutora politicamente como o movimento global por uma cidadania com maior participação política. Aquilo que tinha sido muito claro no 12 de Março foi a firmeza com que os promotores conseguiram manter o seu discurso político de integração e de inclusão de pessoas que encontravam espaço para uma multiplicidade política que reforça a nossa cidadania. Porque a realidade política é uma pressão muito forte. Aquilo que me desagradou no último comunicado dos promotores do 15 de Outubro é que eles estavam a abrir a possibilidade do movimento ser conotado como um movimento contra este governo e as suas medidas impopulares conotando-o com um movimento de contestação ao governo que tem uma determinada expressão política e partidária. Abrindo caminho a que a mediatização do movimento seja feita por aí também. Não me revejo nessa linha de contestação política ao Governo. Partilho com ela muitas questões essenciais, entre elas a necessidade da renegociação da dívida, a necessidade de tributação de muitos rendimentos do capital que andam por aí a passear-se vistosamente, a necessidade acabar com ruinosos negócios público privados, a necessidade de uma política com maior componente de solidariedade social mas subsistem diferendos mais ou menos insuperáveis sobre a precariedade, o Estado, os direitos adquiridos, entre outros e, do ponto de vista da política portuguesa responsabilizo-os directamente, com o Partido Socialista, por estarmos com um governo de direita. É para mim de uma evidência cristalina que por mais pequeno que fosse o mínimo denominador político comum de um governo com apoio parlamentar do PS, do PCP e do BE, seria sempre maior do que aquele que existe com uma política defendida por um governo PSD/PP. E nesta perspectiva, não creio que este governo tenha feito algo ( excepto no plano constitucional, no qual algumas medidas deste governo já deviam ter sido colocadas, nomeadamente a da alienação de posições públicas a favor de privadas com evidente destrato do interesse público) que esteja para além daquilo que se esperaria de um governo como este. Está a defender a solidariedade com os seus grupos de interesses declarados, conhecidos. É portanto sobre um sistema político partidário que não permite encontrar as soluções para uma melhor governação da comunidade que eu, enquanto cidadão, me rebelo, me revolto, me indigno. E mesmo que continue a legitimá-lo através do meu voto, porque o sistema é tão viciado que o meu não voto é também uma legitimação do sistema, comecei, paralelamente, a tentar encontrar outras maneiras de dar sentido à minha participação política enquanto cidadão. Continuo com esta dúvida: vou à manifestação ficando em casa ou indo para a rua?
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