Há dias que parece que nunca mais acabam ou que nunca acabarão dentro de nós. A frase é quase banal: ela ontem andou à procura de um sitio para morrer. Um plano B se chegar a uma altura em que não possa esperar pela morte na sua casa. Todas as pessoas em todos os dias procuram alguma coisa de tangível e tudo seria banal nesta frase. Até o modo como ela se ria e dizia que todos os três sítios lhe pareceram bons, excepto um, por causa de um pequeno aspecto, o de não terem quartos individuais. Ou de como barafustou contra o Estado, já que não compreendia porque é que quando ao fim de uma longa lista de espera, quando uma pessoa consegue chegar finalmente a um destes lugares, se depois melhora e vai querer beneficiar de apoio domiciliário, se voltar a precisar entra novamente na lista de espera. É por isso que muitas pessoas optam por já não saírem de lá. É difícil esperar a morte em Portugal, chegámos à conclusão e gargalhada atrás de gargalhada até nos esquecemos de que era da sua próxima morte que estávamos a falar. Aliás, no outro dia, e foi a única vez desde este reencontro que lhe vi um bocadinho de água nos olhos, uma nesgazita de nada, quando falou da comoção que tivera ao ler o Sinto muito, do Nuno Lobo Antunes, em que dissera, comoveu-me ver que o que estava escrito é o que eu penso. E depois: " a única coisa que eu gostava ainda de fazer era ajudar as pessoas a não terem medo da morte." São dias que têm horas, minutos e segundos como os outros, são iguaizinhos, não há nada que os distinga, senão esta sensação de que nunca acabarão dentro de nós.
2 comentários:
Ora aí está, uma coisa na qual penso imenso. É preciso fazer mais...
Bom ano!
~CC~
Ora aí está, uma coisa na qual penso imenso. É preciso fazer mais...
Bom ano!
~CC~
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