terça-feira, novembro 14, 2006
A malicia do aborto
A Conferência Episcopal já deu o mote do posicionamento da Igreja face ao referendo. Nada de novo. Nem seria de esperar outra coisa. Há no entanto algumas observações a fazer à retórica eclesiástica utilizada, até porque a praxis religiosa é, enquanto acto de doutrinação e construção do dogma, essencialmente retórica. A figura-chave desta retórica recai sobre o não-direito da mulher a dispôr do corpo do nascituro que a Natureza colocou no seu ventre. É uma pequena subtileza de espirito dos homens de saias que não deve chocar muitas fiéis, talvez distraídas com o essencial desta mensagem: a interrupção voluntária da gravidez é, muitas vezes, uma prática realizada pelas familias, pelos casais, por um homem e por uma mulher. O discurso eclesiástico sempre se relacionou com uma espécie de comportamento esquizofrénico que deseja ver replicado nas suas fiéis: por um lado maltrata a mulher, secundariza-a hierarquicamente, entrega-lhe os trabalhos serviçais, apedreja-a como pecadora e criminosa. Por outro lado espera que ela, submissa, aceite, faça parte do coro que se insurge e apedreja as maliciosas.
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5 comentários:
A religião não se discute. Combate-se!
não sei se estou de acordo, Rui. seria aliás mais tentado a dizer que ela se combate discutindo. o grande dano da influência do religioso no político será a sua tendência para contaminar o politico com algumas das caracteríticas do religioso (indiscutibilidade, dogmatismo); iria até mais longe, ao meu agnosticismo, essa anti-religiosidade tão extrema, que se situa num plano de uma verdade que não poderá ser partilhada e que por isso inutiliza toda a discussão, parece-me um tanto ou quanto...religiosa. abç
O grande atraso cultural das mulheres no Ocidente deve-se á religião Católica.
A mulher é demónio e P...Por isso tiveram de fazer virgem a mãe de Cristo.
Só dá vontade de rir para não chorar.
A desmontagem está perfeita.
Mas a luta não se afigura fácil...!
A igreja é muito estúpida. Acha que a mulher não tem direito ao seu corpo, porque não é seu, é do embrião invisível, do marido-dono, da igreja de deus, de todos menos dela. A vida da mulher (não o corpo, a vida dela) não interessa, porque para a igreja a mulher é parideira e a isso está desde sempre sujeita. O que é novo neste discurso - aqui contra o aborto - é a pretensão anticonstitucional de invalidar o poder político e dizer que ele não pode decidir sobre estes assuntos - que não são da sua alçada. Serão da alçada da igreja - ah ah deixem-me rir, são tão estúpidos. Teremos então nós os vivos que pertencer ou aos políticos ou aos padres. Não há vida própria?! São uns canalhas, uns hipócritas, porque sabem perfeitamente que aceitaram (de mau grado. claro) a separação da igreja e do estado, conhecem perfeitamente o que a lei europeia e as recomendações da ONU dizem acerca do acesso ao aborto, mas preferem martelar na ignorância e vir reclamar - eles! - a autoridade moral em relação à vida dos outros. Porquê? porque só se contentam com a culpabilização geral, com a autopunição que é a sua retórica principal, e o moralismo frustado de quem não sabe o que é a vida. Sempre caguei para a igreja, tanto se me dá como deu, mas com esta atitude são capazes de me provocar este chorrilho de insultos. A mim e a outros, começam a irritar. Representam o obscurantismo puro.
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