domingo, março 25, 2007

Salazar revisitado

Cada blog tem a sua natureza própria, a sua diferença. Este tem a circunstância de ser escrito por dois bloggers, CMC e LNT, que muitas vezes apresentam diferentes pontos de vista sobre os mais variados assuntos e cujo diferendo mais ajuda a fortalecer a identidade do blogue onde escrevem. A propósito de um post sobre Salazar, a divergência de opiniões fez-se novamente sentir. CMC escreveu num post que "Os fantasmas do passado estão a esbater-se com o tempo, como é natural, e já só os têm aqueles que estão presos a uma era que receiam regressar e outros que a desejariam - época, regime e mentalidades que não têm mais retorno." e LNT retorquiu-lhe, quer nos comentários, quer num post. Para além desta forma muito civilizada de discussão entre os dois que é já uma marca de estilo do Tugir em Português, há apenas uma questão que me parece importante salientar: enquanto viverem pessoas que foram torturadas, presas, prejudicadas nas suas vidas pelo regime salazarista, a palavra mais adequada, mais justa, para falar do que se passa com essas pessoas, é ferida. Ou cicatriz. Feridas do passado, do presente. Fantasma, fantasmagoria não só evidencia uma grande insensibilidade como poderá ser encarado como peça de um discurso revisionista. Por outro lado dizer que se Salazar não conhecesse tão bem a Alma deste povo, de como lhe agradar, como poderia o senhor ter governado tanto tempo?", é uma afirmação tão espantosa que deixaria incrédulo o próprio ditador, que nunca confiou assim tanto no seu conhecimento da "alma" do seu povo, e por isso sempre utilizou outras metodologias de manutenção do poder menos espirituais e menos hemernêuticas, como a polícia política, a repressão, o controlo politico, social,educativo, cultural e económico. Ou seja, não serão só os fantasmas do passado que se estão a esbater com o tempo. É o próprio passado. E com ele também o pudor, o respeito pela história e pela memória.

2 comentários:

nana disse...

podes crer..

:o(((((((((((((

Anónimo disse...

Lidando muito de perto, pessoal e profissionalmente, com estas questões, e como tal, tocando-me bastante, apesar de almejar a uma 'objectividade' que considero (para mim mesma) necessária, julgo que o Joaquim toca numa palavra essencial: respeito.
Respeito não só pelo Sofrimento dessas pessoas, mas por tudo o que isso implica para nós, geração de transição. As feridas dessa (nossa) gente, as suas cicatrizes, deveram-se em grande parte a uma 'simples' utopia: um mundo melhor. Por uma fraternidade, uma igualdade, e liberdade de expressão (na ironia de escrever isto neste dia...).
E se alguns referem, e com alguma propriedade, que se está esbatendo esse passado, falta-lhes(/-nos) reflectir a sério sobre as consequências desse passado. Se a nível individual não podemos escamotear o passado,poderemos fazê-lo quanto ao colectivo?! Que marcas nos deixou esse regime? não apenas económicas, sociais ou políticas, mas a nível relacional-afectivo como povo, como gentes deste lugar ocidental?