quinta-feira, maio 17, 2007

Corrida à Câmara de Lisboa

Se algumas dúvidas eu tivesse de que a política partidária é um emaranhado de tensões que se contradizem, e das quais surgem opções e decisões que não podem ser avaliadas pela forma como se constituiram, o aparecimento da candidatura de António Costa tirar-me-ía todas as dúvidas. A falta de sensibilidade e de tacto político na forma como o PS geriu a disponibilidade de Helena Roseta para discutir uma solução para Lisboa - e cuja candidatura poderá vir a enfraquecer a posição do candidato socialista - e o modo como o retirar de Costa do Governo poderá não só ajudar a desiquilibrar o elenco governativo numa altura em que estamos à porta da Presidência Portuguesa da Comunidade Europeia, como também poderá ajudar a dar a ideia de que os políticos se têm em tão boa conta que podem passar perfeitamente da gestão de um ministério como a Justiça ou a Administração Interna, para a gestão da maior câmara do país, parece não serem tão fortes como o argumento que legitima Costa: trata-se de um dos mais preparados e brilhantes políticos portugueses, tanto no plano politico, cultural, técnico como humano. Além disso, como escreve Eduardo Graça no Absorto, a aposta forte do PS é um bom sinal de inconformismo político, tanto mais de realçar quanto corresponde a um partido que está no Governo o que poderá acarretar, face a um mau resultado eleitoral, danos evidentes para a própria acção governativa. O argumento inicial é válido também para a expectativa de um possível desenlace: à partida Helena Roseta deverá sentar-se na vereação da Câmara e será provavelmente uma das mais qualificadas vereadoras, empenhada em defender uma solução urbanística para Lisboa que valorize a dimensão social da necessidade de fazer valer o direito à habitação. Por isso, embora o PS de José Sócrates não lhe tenha dado a necessária relevância política para discutir com ela uma solução para Lisboa, estou certo de que haverá lisboetas suficientes para fazer com que a Câmara de António Costa venha a ser obrigada a valorizar a participação politica de Helena Roseta. A cidade terá aliás muito a ganhar se Costa e Roseta não se atirarem ao eleitorado que lhes é comum e tentarem, principalmente Roseta, cativar votos nos sociais-democratas e nos independentes de Carmona. Seria uma excelente notícia para Lisboa. E falo antes de conhecer os candidatos, apenas a partir do que intuo dos seus percursos políticos. Porque poderá ser que se Helena Roseta fizer um programa politico surpreendente, ela fortaleça ainda mais a sua posição na disputa política que se avizinha. Até porque António Costa, pese o seu elevado gabarito político, não parece ter uma relação com a cidade tão especial e aprofundada que o faça ser o melhor candidato a presidente da Câmara de Lisboa. Os lisboetas estão habituados a ver candidatos que têm uma relação especial com a cidade, como a tinham João Soares, Sampaio, Abecassis ou o próprio Santana Lopes.

3 comentários:

Anónimo disse...

As listas de independentes para as autarquias não devem ser vistas como um grupo associativo da sueca ou jogo da malha.

Helena Roseta é uma personalidade, competente, com visão e todos os demais bons predicados para ser vereadora ou presidente de câmara. Agora o staff que necessariamente terá que ter é que me preocupa, e que deveria preocupar todos os que afirmam "que se deve acabar com o culto da personalidade" - citação livre.

Se essa candidata acha que tem pouco tempo para arranjar 4 mil assinaturas, não merece crédito o seu projecto. Ou então, assiste-se a um voluntarismo apenas baseado na personalidade e lá vamos nós outra vez no carrocel.

Quem seriam os "amiguitzes" que a rodeariam ? brrrr...

Face ao desgoverno a que se assiste, ter uma postura de liderança forte é um factor crítico de sucesso no contexto actual.

O que, no que concerne ao António Costa, e pelo facto de ter conquistado capital político de simpatia e credibilidade num plano nacional, não o diminui como potencial candidato à maior câmara do país, antes pelo contrário.

E esperem mais 8 anos para o verem como candidato à Presidência (da big one, i mean).

Anónimo disse...

1 - qual era a "especial" relação que o Santanas tinha com Lisboa ? (tirando o Kremlin)

2 - essa "relação especial" era tão mais forte do que a que tinha o João Soares? (percebida pelo eleitorado lisboeta)

3 - em que consistia a "relação especial" do Bloco de Esquerda com Lisboa (percebida pelo eleitorado lisboeta)? - ahhh.. espera, os contratos de animação e divulgação cultural. (já está respondida)

4 - ou será, pergunto eu, que os resultados eleitorais de Lisboa reflectiram um poucochinho, ouso eu dizer, o panorama politico nacional?

Anónimo disse...

Julia Roberts - 12
Lisboa - 2

No dia 2 de Julho cá estaremos para mais profundas análises dos resultados eleitorais ;)

Entretanto, como diz o Lauro Dérmio, "always watch good moves"