quarta-feira, agosto 29, 2007

B.A.

Deixo-me levar pela noite de Lisboa. Eu não estava para sair. Tinha acabado de derreter uma conversa na esplanada e despedira-me já com o sono a embalar-me mas por me ter esquecido de uns óculos de uma amiga que combinara deixar ficar no café, tenho de voltar à rua. E entre esse volteio os pés perguntam-me por uma dança. DChego ao Music Box no momento em que acabaram os concertos. O Tokio está vazio. Ao lado o Jamaica está mobilizado para umas filmagens. Decido ir até ao B.A. Subo a Rua do Alecrim. As núvens no céu, as cores da cidade, uma certa espessura do ar, dão-me a estranha sensação de que a cidade mirrou, que vai desaparecer dentro da minha cabeça. Subo pela Rua do Norte. Passo por um dos meus bares de culto enquanto começo a pensar que já não tenho idade nem pachorra para vagabundear à noite sozinho. De certa forma procuro-a. Não sei bem quem ela é. É um misto de antigo e novo, alguém que me diga que eu estou vivo e faço parte deste mundo estranho onde eu já não passava com frequência há muitos anos. Entro e saio da Tertúlia, vou à Bela, encontro o Ruy Otero com uma amiga, oferece-me boleia para a Graça, eu acabei de chegar, passo. Aparece-nos entretanto uma gracejana, uma rapariga de porte altivo, linda, doce, vinte e poucos anos garbosos. Peço indicações sobre algum sitio giro, a rapariga simpática oferece-se para meu guia até ao Maria Caxuxa, eu declino, deixo-me entreter a acabar a conversa com o Ruy, enquanto eu lhe peço conselhos sobre locais engraçados para aquela noite do Bairro ele pede-me sugestões de blogues. É justo, troca por troca, falo-lhe do DOC LOG da Leonor, o Ruy é do vídeo, do cinema, o blogue dela não tem nada a ver com os nossos exercícios de diletantelismo, sei que ele vai gostar. Durante anos e anos o Bleza foi a minha pátria e agora, perdido no meio do bairro percebo que o Majong já não tem matraquilhos, aqueles matraquilhos famosos onde cheguei a ver jogar o Joaquim de Almeida e a Maria de Medeiros, tem alfaces, alfaces penduradas no tecto, também não tem o sr. Li, nem a Teresa Roby sentada à porta a conversar com a Sigalho e com o meu irmão, alfaces e um grande balcão de cimento do qual gosto muito, lá estou eu a ser nostálgico, é da solidão, vou ao Bartis, bebo um favaios enquanto cumprimento rapidamente a Bárbara e a Cristina, depois saio para a rua, mais humano, disse duas palavras uma encostada à outra, desço à bica, no Bicaense encontro o Ângelo Torres, estou safo, de repente os conhecidos irrompem, o Luís, a Kitty, a Magda, a filha, que par, são um consolo para a alma, separam-nas dezassete anos de idade, é assim que a nossa criação deveria ser sempre, um ombro, para tudo. Para as farras, para as desforras, para tudo. Vou com a alma aos saltos para casa, chego a casa consolo-me novamente com o meu rio, a minha noite, embalo-me nisto, adormeço que nem uma criança feliz.

4 comentários:

Anónimo disse...

:)

Cristina Gomes da Silva disse...

Olá Joaquim, tens uma cidade polvilhada de amigos. Não é mau!

Mónica (em Campanhã) disse...

ah, as noites, as noites... tu ainda as tens

Anónimo disse...

Nunca falta camisa à fiandeira cuidadosa.