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quarta-feira, agosto 04, 2010
Todos os dias
sexta-feira, agosto 14, 2009
Verão em Galamares

segunda-feira, agosto 18, 2008
Viagens
No sábado quando fui comprar o jornal olhei o Le Monde no escaparate. Apeteceu-me. E à medida que o lia tomei consciência daquilo que sabemos: que o mundo é uma amálgama de culturas, de pontos de vistas, de ideologias, de modos de viver. Deliciosamente diferentes. Tão deliciosamente diferentes que um indivíduo pode, pelo simples acto de se deliciar com a leitura do Le Monde, imaginar que está num país diferente. Há as grandes e as pequenas nuances. O jornalismo do Le Monde - e deixem passar esta cretinice de o avaliar pela leitura de algumas folhas da sua edição de sábado - é um trabalho onde, mesmo na notícia trivial, há o recurso a figuras de explicação que transformam o objecto notícia. Se eu fosse enólogo diria que o jornalismo do Le Monde é encorpado. Mas não é destes posts-achismos que este texto se alimenta. A ideia é a viagem. O viajar ali sentado naquela esplanada de Telheiras, enquanto o chuvisco, a brisa, as folhas das árvores, me remetem para os fins de Verão no Minho, em Caldelas. Ontem, já sem motivo, comprei o El País. Ficou esquecido na mala do carro, li apenas algumas páginas. Hoje vou descer ao Rossio e, saltando pela maior dificuldade em me relacionar com a língua inglesa, vou comprar um jornal londrino. O veraneio é isto, inventar lugares para o existir.
sexta-feira, agosto 31, 2007
Outra vida para além dos blogues
Voltarei ao Respirar na próxima sexta feira depois de uma pequena pausa. É verão, verão. Até já.
Que se lixe o real!

quinta-feira, agosto 30, 2007
Estranha forma de vida
Dizia-me, amo os finais, tenho uma extraordinária propensão para fazer florir as rosas quando elas murcham nas mãos áridas dos amantes. Ela falava sem se dar conta da beleza que lhe crescia nos dedos de mulher. A maior parte das pessoas que conheço são pessoas de sentimentos perfeitos e normais. Esvaziam-se de um amor antes da chegada do próximo que pode ou não coincidir com a Primavera. Será aliás sempre verão, por mais tardio. Não sou assim. Primeiro preencho os espaços em branco e só depois, a meio da caminhada, começo a libertar carga, até que da última viagem não reste senão um torpor. Aprecio as pessoas arrumadas sentimentalmente e tiro delas inspiração para os meus melhores dias mas não consigo repetir a façanha. O que procuro nunca existe. Eu gostava de encontrar um dia uma mulher que me tirasse o desespero. A sensação de agonia. A dor anestesiada de uma solidão. Essa mulher não existe. Nunca existirá. Não porque não exista. Porque entretanto me ocupo com mulheres que me fazem sofrer, que me desesperam, que me agoniam. Estou a ser injusto. Poucas são as que me agoniam, que me desesperam, que me fazem sofrer. O que acontece verdadeiramente é que não me libertam da agonia, do desespero, do sofrimento. Ao invés disso preeenchem-me de cores, de alegria, de envolvimento, de doçura tal que eu sinto, sempre pela primeira vez, que posso abrir os olhos diante da verdadeira agonia, do verdadeiro sofrimento, do verdadeiro desespero. A mulher que eu procuro não existe. Não porque não exista. Existe, para lá da agonia, do desespero, do sofrimento. Todos os dias dorme no meu leito nú. É com ela que eu me deleito e entrego à mulher que verdadeiramente me beija.
quarta-feira, agosto 29, 2007
B.A.
Deixo-me levar pela noite de Lisboa. Eu não estava para sair. Tinha acabado de derreter uma conversa na esplanada e despedira-me já com o sono a embalar-me mas por me ter esquecido de uns óculos de uma amiga que combinara deixar ficar no café, tenho de voltar à rua. E entre esse volteio os pés perguntam-me por uma dança. DChego ao Music Box no momento em que acabaram os concertos. O Tokio está vazio. Ao lado o Jamaica está mobilizado para umas filmagens. Decido ir até ao B.A. Subo a Rua do Alecrim. As núvens no céu, as cores da cidade, uma certa espessura do ar, dão-me a estranha sensação de que a cidade mirrou, que vai desaparecer dentro da minha cabeça. Subo pela Rua do Norte. Passo por um dos meus bares de culto enquanto começo a pensar que já não tenho idade nem pachorra para vagabundear à noite sozinho. De certa forma procuro-a. Não sei bem quem ela é. É um misto de antigo e novo, alguém que me diga que eu estou vivo e faço parte deste mundo estranho onde eu já não passava com frequência há muitos anos. Entro e saio da Tertúlia, vou à Bela, encontro o Ruy Otero com uma amiga, oferece-me boleia para a Graça, eu acabei de chegar, passo. Aparece-nos entretanto uma gracejana, uma rapariga de porte altivo, linda, doce, vinte e poucos anos garbosos. Peço indicações sobre algum sitio giro, a rapariga simpática oferece-se para meu guia até ao Maria Caxuxa, eu declino, deixo-me entreter a acabar a conversa com o Ruy, enquanto eu lhe peço conselhos sobre locais engraçados para aquela noite do Bairro ele pede-me sugestões de blogues. É justo, troca por troca, falo-lhe do DOC LOG da Leonor, o Ruy é do vídeo, do cinema, o blogue dela não tem nada a ver com os nossos exercícios de diletantelismo, sei que ele vai gostar. Durante anos e anos o Bleza foi a minha pátria e agora, perdido no meio do bairro percebo que o Majong já não tem matraquilhos, aqueles matraquilhos famosos onde cheguei a ver jogar o Joaquim de Almeida e a Maria de Medeiros, tem alfaces, alfaces penduradas no tecto, também não tem o sr. Li, nem a Teresa Roby sentada à porta a conversar com a Sigalho e com o meu irmão, alfaces e um grande balcão de cimento do qual gosto muito, lá estou eu a ser nostálgico, é da solidão, vou ao Bartis, bebo um favaios enquanto cumprimento rapidamente a Bárbara e a Cristina, depois saio para a rua, mais humano, disse duas palavras uma encostada à outra, desço à bica, no Bicaense encontro o Ângelo Torres, estou safo, de repente os conhecidos irrompem, o Luís, a Kitty, a Magda, a filha, que par, são um consolo para a alma, separam-nas dezassete anos de idade, é assim que a nossa criação deveria ser sempre, um ombro, para tudo. Para as farras, para as desforras, para tudo. Vou com a alma aos saltos para casa, chego a casa consolo-me novamente com o meu rio, a minha noite, embalo-me nisto, adormeço que nem uma criança feliz.
quarta-feira, agosto 22, 2007
Catarina do Aué

segunda-feira, agosto 20, 2007
Acridoce *
O primeiro dia na cidade. Olho para as pessoas. Já tive medo delas. Os meu pânicos são feitos de algodão doce, tal e qual como as núvens do meu tempo-menino. Ou as cores. Um dia, há muitos anos, conheci uma rapariga nas Escadinhas da Escola de Belas Artes. Eu tinha acabado de apresentar uma performance chamada "Às vezes danados!". Ela, estudante de pintura, seduziu-me com as cores das imagens que me descrevia. Já tinhamos falado várias vezes. Eu encontrava-a na Leitaria Garret, com alguns amigos ou conhecidos, amigos de amigos. O mundo era próximo, sei. "Às vezes danados", era o meu grito, entre o exercício teatral e a performance. Fomos para o seu quarto, uma pequena república com vista para o Tejo ali nas Janelas Verdes. Lembro-me de tudo como se fosse hoje. O sabor a medo, o medo da noite, o estremecer, o arrepio de princípio do mundo. Havia apenas a luz do luar, da janela aberta sobre o rio. A cara dela onde tinha inscrito o mapa da sua aldeia. Não sei se jantámos. Ainda éramos pobres. Ela fumou um charro, eu dei uma passa, a medo, só para lhe fazer companhia. E depois ficámos a falar sobre o mundo, dizia-se naquele tempo, os nossos ideais. Éramos artistas, ambos, dos melhores, aos olhos dos pequenos espectadores recíprocos em que nos tinhamos constituido. Eu não sei se um dia saberei falar disto aos que vivem hoje, parece-me um mundo tão antigo, tão dissoluto. E se calhar inútil. Mas disso, dessa inutilidade dos nossos dias não sabíamos naquele tempo. Quando estremecíamos queríamos assegurar o outro patamar do jogo, a memória:
- Um dia mais tarde vais-te lembrar disto? - perguntou-me ela.
- Queres que eu me lembre?
- Claro que quero, porque perguntas?
- As mulheres são tão estranhas. A maior parte pedem-me para esquecer.
- Para esquecer o quê?
- Tudo.
- Eu quero que me lembres.
- Então nunca mais te irei esquecer.
E foi então que fez da minha pele, tela. Pintou-me, por inteiro o arco-iris, a pastel, no chão do meu corpo. Eu estava comovido. Tinha sido educado para perseguir as coisas estranhas e raras e pensava que um dia me iria enfastiar de tanta novidade mas de cada vez parecia que o novo era mais festa, mais alegria. Era como se o inusitado fosse eu por dentro a abrir-me, como se fosse uma flor.
- As tuas cores são tão ardentes.- disse-lhe, quando a minha pele começou a fumegar.
- Ardem-te?
- Queimam-me. São de um calor que ainda não existe.
Ela riu-se.
- Tu amas sempre assim com tanta literatura?
- Estás cansada de mim?
- Tu nunca me cansas. És um homem bonito.
Estava orgulhoso da minha pele translúcida, cromaticamente prolongada com a paisagem.
- É das tuas cores.
Eu, que era um pudorento moço, andei nessa noite nu pela casa, de um lado, a espalhar a minha felicidade. Sentia-me revestido de uma película de mel. Ainda lhe prometi, nunca mais me vou esquecer. E nunca mais me esqueci. Desci a Rua da Adiça com o coração aos saltos, olhava para as pessoas renovadamente, já tinha tido medo delas, um pânico de algodão doce, doce como quase tudo na minha vida.
j
[Enquanto ouço Acridoce, in Outra Vida, de João Afonso]
quinta-feira, julho 26, 2007
Amnésia
Deu-me em cantar. Aconteceu-me fazê-lo como se rebentasse com as cordas vocais. Há uma alegria não-verbal no meu tecido celular. Eu gostava de saber os nomes dos meus enzimas, das várias camadas de pele que é preciso atravessar para ir do meu intestino delgado até à pequena verruga que tenho na ponta do nariz. Sempre admirei as pessoas que sabem os nomes das coisas. Por mim apetecia-me saber quantos ácidos revestem esta minha mania de ser doce. Ou queria desfazer-me na minha hipótese química. Morro e nasço dentro de mim e não sei sequer o nome dos meus mortos nem dos meus vivos. Deu-me em cantar.
Apeteceu-me fazê-lo como se me esvaísse em delicadeza. Na mais pura delicadeza. A verdade é que se alguma vez alguém me tivesse ensinado os nomes das coisas eu me teria esquecido. Esqueço-me de tudo. O meu problema não é, agora, o não saber. É esquecer. Evito até aprender novas coisas, pelo menos, evito aprendê-las pelos metódos escolares tradicionais. Sei, e sei para sempre, e sei-o desde sempre, aquilo que apreendo com os sentidos. Ainda me lembro intuitivamente dos cheiros, há pessoas que não se acreditam quando o digo, mas eu lembro-me ainda do cheiro da placenta que me revestia, ou da apoteose de odores do interior materno de onde vim.
Há qualquer coisa de incompleto numa vida.
É de noite que a solidão demora o tempo, o lugar. E atrasa mesmo o pensamento. Em todas as noites da minha vida neste universo de equações e de seres o que atrasa o pensamento e com este, a tranquilidade, é a noite. Admiro as pessoas que são feitas de uma só peça, ou até, metade de uma coisa ou metade de outra. Por exemplo, as pessoas que são apenas constituidas de bondade. Ou de maldade. Eu sou uma amálgama retorcida, traiçoeira. Sou um monstro e a minha monstruosidade é, a minha humanidade. Sem ela seria menos que um suspiro, um pedaço de vento. Não seria nada.
Há qualquer coisa de incompleto numa frase.
terça-feira, julho 24, 2007
Trincar a cereja

Acordaste-me com o meu sonho: os dois sentados em cima do muro a trincar cerejas. De um e de outro lado do muro, os pezinhos da cereja ligavam-se com os caroços. Tudo transbordava de um sexo exaltante, exaltado.
segunda-feira, julho 23, 2007
Footsbarne Theatre
Lá fui a Santo André ver "A Midsummer Night's Dream", do grupo que tinha visto no pátio da Comuna há vinte e cinco anos. Não desiludiu. Aquilo que distingue o colectivo, para além de toda a sua qualidade teatral, é a alegria com que representam e como fazem da representação, vida. Ao fim de duas horas de espectáculo sem intervalo, em lingua inglesa, não houve quebras: o texto é apenas um dos níveis da representação teatral. E entretanto é uma delícia ver como o Mário Primo continua com o seu projecto da Ajagato. A enchente de sábado, como o tinha sido na véspera, tem a ver com a ligação que o grupo tem com a zona.
segunda-feira, julho 16, 2007
O para onde vamos é o porque somos?
Nasci com o sol na face, no corpo, na terra onde plantaram a minha placenta, mas é nestas noites que existo verdadeiramente. Há sempre um equinócio perto de mim quando me apaixono e é sempre em Julho. Ou se não for é antes, mas tem de ser verão. Já me aconteceu trocar as voltas ao calendário e por um acaso, apaixonar-me em Maio. Foi verão à mesma.
sexta-feira, julho 13, 2007
Da discussão a escuridão
Tenho uma profunda admiração por todos aqueles que têm opiniões firmes, arreigadas pelo sabor do tempo e das convicções, inabaláveis. Ao longo da minha vida tenho conhecido muitas pessoas assim. Homens e mulheres de um só ideal, de uma só ideia. Uns nasceram comunistas e encaram com grande naturalidade a circunstância de que provavelmente irão morrer comunistas. Ou abriram para os olhos naquele apertado, circunspecto e conservador, "deve ser assim", que nos ressoou durante anos e anos a fio, e que repetem, pelo longe dos tempos que viverão entre nós, "assim deve ser". E quando não são as ideias que os alimentam é uma espécie de ódio. O ódio, o rancor, o desdém, é uma forma persistente de pensamento. Tenho uma profunda admiração por todos aqueles que têm opiniões firmes, arreigadas pelo sabor do tempo e das convicções, inelutáveis do seu ódio-carpir. Admiro-os como quem se estranha. Às vezes, sabendo que alguns deles, poderão passar por aqui, estanco o passo, o pensamento, a expressão. Não sei como foi, foi devagar, tal e qual como os ponteiros do relógio: fui-me educando para a insegurança, para a timidez, para o não saber, para a dúvida, para a transitoriedade das ideias, dos pontos de vista. Não me reconheço em muitos do paradigmas racionalistas, como o estafado "tenho as minhas opiniões mas se me convencerem sou capaz de reconhecer o ajuste da opinião alheia". Eu nunca tive as minhas opiniões. Seria incapaz de chamar minhas às opiniões que me ocupam o pensamento. Se há qualquer coisa de meu nas minhas opiniões é esse momento-fronteira em que me despeço de uma para abraçar a outra. Tudo o que tenho ou sou tenho e sou por empréstimo. Este corpo, que reconheço provisoriamente como meu, quer dizer, que dele trato o melhor possível como se fosse meu. Esta identidade, forçada muitas vezes pelos outros mas também pelo outro de mim mesmo que tantas vezes consigo ser. Tudo isto pode, para muitos, parecer o pesadelo. Somos educados para o não querer, para o não ser, para a conformidade. E só quando todas as mortes que nos sobrevieram nos dizem que nunca mais teremos nenhuma oportunidade de dançar do que este exacto momento em que escrevemos, rimos, conversamos, dançamos ou fodemos, é que percebemos que é neste local exacto onde nos deseducamos que afinal, nos cultivamos. E devemos fazê-lo, cultivar. Um dia, quando eu morrer, gostaria que uma tecnologia entretanto inventada conseguisse resgatar todos os meus sonhos, todos os meus projectos, todas as minhas ideias, mesmo aqueles que ainda estão em esboço, como esta vontade de sair daqui desta mesa do ciber-café como se fosse vento, e que as transformassem em livro, em filme, em poema, no livro, no poema, no filme que eu nunca soube ultimar. Eu por dentro sou febre. Sou um provinciano a arder por dentro com uma febre de mundo. A Celta, quando eu lhe contava os meus sonhos de andarilho, dizia-me que eu tinha de começar a viajar para fora. É verdade. Não é por estar calor, por ser verão, por tudo o que me cerca agora ser literatura de viagens que eu anuio. É porque é verdade.
domingo, abril 22, 2007
Respirar
Respiro fundo, como aprendi, há vinte e tal anos naquela sala de tapetes vermelhos onde o João Mota nos conduzia para lugares imensos de calma, de equilibrio, de encontro. Inspiro profundamente, como se fosse um ar azul, calmo, tranquilo, expiro com determinação, como se fosse um ar vermelho, violento,as guerras que tenho dentro de mim. Cada um de nós é a sua história e a ela reescrevemo-la todos os dias. Em cada sopro. As minhas palavras têm a cor do ar que respiro.
Intranheza
Tudo isto tem daquele humor que salga a vida: por vezes nos meus dias dou-me conta de uma estranheza, uma fina película de estranheza que me cobre os gestos, o olhar e que me faz perguntar o que faço aqui nestes lugares a que chamo meus, com estas pessoas a que chamo minhas. Sorrio. Não são sempre estes momentos, são por vezes, e até, poucas vezes. E já não me assustam, nem me entristecem, nem me perturbam, como aconteceu tantas vezes, ciclicamente, desde a minha infância. É essa estranheza que me intranha dentro de mim, que me torna próximo, que me diz que depois de tantas vidas e tantas mortes, ainda sou eu a transportar os meus dias. Sorrio, esses meus momentos fazem-me descansar da realidade. São um pouco como aquele tirar dos óculos da minha amiga a deixar os seus olhos míopes navegarem por sombras, contornos, pedaços de luz.
sábado, abril 21, 2007
Errância
Esperar a noite. Há uma inquietude. Como se fosse uma brisa. Tudo isto, se não fosse assim, poderia ter sido de outra maneira. Há um travo de angústia, como se fosse uma pequena malagueta incorporada no espírito. As histórias mais bonitas são as que nos dão mais vontade de chorar. Outros que não nós merecem-se na certeza. Nós fomos feitos para isto, para errar. Errantes.
terça-feira, abril 17, 2007
Nobai
Chegaram as longas tardes do jardim do Adamastor. Apetece-me namorar, dar-me em tempo aos amigos, esgotar-me no deleite desta novela diária que é o rio pela milionésima vez. Cansar-me dele, da ponte sobre o rio, desde ali de Alcântara até ao Cristo-Rei. Aquilo que fica quando tudo nesta paisagem se esgotar: os barcos que navegam em sentido paralelo às margens do Tejo. Os cacilheiros são em si parte da beleza que isto é. São-no de outra maneira. Ligam as margens, existem enquanto emanação delas. São belos como belos são os telhados, os telhais, o casario que desce até à àgua. Enquanto tudo isso é, será, como foi, tal como aquele comboio agarrado aos seus carris, os barcos que atravessam o rio, desde a rocha de Conde D'Óbidos até ao desaguar no Oceano, já ali ao pé do segundo forte, são a marca do instável, do precário, do transitório, do provisório em que uma vida - mesmo uma mil vezes repetida neste horrizonte que quase se diria um quadro - se pode tornar. Esses barcos, tanto os que entram como os que saiem são, nesta tarde magnífica de um Abril quente, a verdadeira metáfora deste viver que aqui quase se diria tela, pintura. E de repente, através da minha sombra reflectida no papel, apercebo-me de uma pergunta sem resposta: o que é que fazemos aqui? O que fazemos e o que deveremos fazer? Sentarmo-nos, aquietarmo-nos na ilusória sensação de uma bidimensionalidade que nos fará fazer parte da tela? Ou darmos livre curso a um quase irrepremível desejo de sermos onda, quer dizer, movimento, acção e transformação?
segunda-feira, abril 16, 2007
Terapia breve
Apeteceu-me de repente abraçar vivos. Demorar-me assim numa tarde, ou mesmo, no seu fim. Fechar os olhos e dançar. Dizer que sou dono da minha vida, aquela mesma mentira piedosa onde, em tempos mais lúcidos, me crucifico. Tudo isso é simultaneamente lascivo. O não saber para onde vou, o perder-me na multidão, o ter medo do escuro. Como que um cheiro a sal. A corpos nús, molhados pela água, pela areia. A metafísica a mim, dá-me tesão.
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