A maior parte do debate mediático sobre a acção na Herdade da Lameira, Silves pelo movimento Verde Eufémia centrou-se na condenação da mesma como uma violação ao direito inalienável da propriedade privada, como uma acção de ecologistas estrangeiros encapuçados e, até, como uma acção de ecoterrorismo (termo propalado por Mário Crespo na SIC Notícias) sobre um agricultor à beira de uma síncope cardíaca que viu parte da sua plantação destruída. Por outro lado, a oposição esgrimiu, com oportunidade, a incompreensível passividade das forças da lei.
Nada contra. A plantação do agricultor estava legal, os destruidores do milho deveriam ter sido impedidos, identificados e detidos, para apuramento das responsabilidades sobre o que fizeram. Mas essa é apenas uma parte da questão e o que é facto é que a colocação obssessiva do tratamento acabou por apagar a discussão sobre os outros aspectos.
E a discussão sobre os outros aspectos é: que sentido, que poderes é que tem uma região para se declarar região livre de transgénicos quando eles são legalmente cultivados no seu território? E porque é que uma região faz isso, qual é o interesse? É apenas uma marca para o Guinness? E os transgénicos fazem mal? Em que medida? Em que medida é que a plantação de transgénicos afecta os cultivos circundantes? Que grau de conhecimento é que temos sobre este assunto?
O grave do tratamento dado a este acontecimento é que ele parece que nos quer dar a entender que se pensarmos nestas questões estamos a ser cúmplices dos activistas do movimento Verde Eufémia. São sempre os mesmos truques e artimanhas do maniqueísmo informativo: tem de se estar de um lado, contra o outro. Criou-se até uma fórmula que permite a desresponsabilização: "os activistas da Herdade de Silves introduziram o debate público sobre os transgénicos da pior maneira".
Nem é preciso mais. Como eles introduziram o tema da pior forma, como mobilizaram a opinião pública contra eles, a malta nem quer nos tempos mais próximos ouvir falar em transgénicos. Sejamos claros; podemos responsabilizar de muita coisa os activistas do Verde Eufémia. Menos de uma coisa; da nossa desresponsabilização. Da nossa desinformação.
Algumas ligações:
2 comentários:
sabes, gosto mesmo de visitar o meu país no teu blog.
nevertheless.
que estejas bem.
x
tu também. :)
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