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quinta-feira, setembro 06, 2007

Transgénicos: o que são, que importam? - Brigada de Contra Informação

A maior parte do debate mediático sobre a acção na Herdade da Lameira, Silves pelo movimento Verde Eufémia centrou-se na condenação da mesma como uma violação ao direito inalienável da propriedade privada, como uma acção de ecologistas estrangeiros encapuçados e, até, como uma acção de ecoterrorismo (termo propalado por Mário Crespo na SIC Notícias) sobre um agricultor à beira de uma síncope cardíaca que viu parte da sua plantação destruída. Por outro lado, a oposição esgrimiu, com oportunidade, a incompreensível passividade das forças da lei.
Nada contra. A plantação do agricultor estava legal, os destruidores do milho deveriam ter sido impedidos, identificados e detidos, para apuramento das responsabilidades sobre o que fizeram. Mas essa é apenas uma parte da questão e o que é facto é que a colocação obssessiva do tratamento acabou por apagar a discussão sobre os outros aspectos.
E a discussão sobre os outros aspectos é: que sentido, que poderes é que tem uma região para se declarar região livre de transgénicos quando eles são legalmente cultivados no seu território? E porque é que uma região faz isso, qual é o interesse? É apenas uma marca para o Guinness? E os transgénicos fazem mal? Em que medida? Em que medida é que a plantação de transgénicos afecta os cultivos circundantes? Que grau de conhecimento é que temos sobre este assunto?
O grave do tratamento dado a este acontecimento é que ele parece que nos quer dar a entender que se pensarmos nestas questões estamos a ser cúmplices dos activistas do movimento Verde Eufémia. São sempre os mesmos truques e artimanhas do maniqueísmo informativo: tem de se estar de um lado, contra o outro. Criou-se até uma fórmula que permite a desresponsabilização: "os activistas da Herdade de Silves introduziram o debate público sobre os transgénicos da pior maneira".
Nem é preciso mais. Como eles introduziram o tema da pior forma, como mobilizaram a opinião pública contra eles, a malta nem quer nos tempos mais próximos ouvir falar em transgénicos. Sejamos claros; podemos responsabilizar de muita coisa os activistas do Verde Eufémia. Menos de uma coisa; da nossa desresponsabilização. Da nossa desinformação.
Algumas ligações:

terça-feira, agosto 21, 2007

Jardins que brilham

Encontro no jardim uma amiga, uma daquelas amigas que nascem do trabalho e cujo contacto embora morra com a mudança de azimutes profissionais nunca se desfaz. Brinca com o filho e com o marido. Este está de volta de outra criança que por sua vez está acompanhada de uma senhora que presumo, seja uma ama. Começamos a falar. Primeiro dos amigos comuns, depois dos negócios e finalmente da família. Pergunto-lhe se o rapagão é dele. E depois, como o marido continua a brincar com a outra criança, pergunto se também é deles. Ela afasta-se para um canto mais reservado e diz:
- Estamos no início do processo de adopção da Debra.
Está nervoso. Tanto ela como o marido e Miguel, o filho, trocam olhares cúmplices. Estão varridos por uma festa que também me toca. É como se fosse fugaz testemunha de um parto, de um nascimento. O processo da adopção já tem quatro anos e é a segunda vez que estão com a Debra. Miguel leva-lhe o chapéu, a pedido da educadora que acompanha a criança em processo de adopção. Ele fala-me também da forma como tiveram de envolver o Miguel neste trajecto e dou-me conta que isso lhe deu uma estranha e brilhante responsabilidade. Deixei-os no jardim. Com os meu botões ía a pensar em como as pessoas brilham quando se lhes passa um afecto por cima.

segunda-feira, junho 18, 2007

Democracia - Da representação à Participação: O papel dos Cidadãos - Workshops

A *INDUCAR* , que tem como objectivo central a promoção da educação não-formal (e, através desta, da integração social) está envolvida no projecto "Participatory Democracy: European Citizens in Movement" desenvolvido em parceria com instituições da Espanha, Bélgica, Hungria e Grécia, que define como objectivo geral "o desenvolvimento e reforço das capacidades de participação dos agentes locais, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias e formando-os para facilitar a participação".
A primeira fase deste projecto incluiu a formação de um grupo de formadores dos vários países, a segunda fase, a decorrer neste momento, consiste na organização de Workshops nacionais em que os formadores irão disseminar os conteúdos trabalhados.
Vão ser realizados quatro workshops, em quatro pontos do país: Lisboa - 22/06 (próxima sexta-feira), Coimbra - 23/06, Faro - 29/06 e Porto – 07/07. A duração é de um dia e o horário é as 10h às 18h. A ficha de inscrição pode ser recolhida aqui, no site da INDUCAR, onde também pode ser consultada informação mais completa sobre esta acção de formação.

domingo, maio 06, 2007

Urgente: Um milhão de assinaturas para Darfur

Através do Absorto
, fui dar a esta petição que o Collectif Urgence Darfour está a coordenar para pressionar a ONU a intervir no local e apoiar os que escapam aos massacres. Assinar aqui.

sábado, maio 05, 2007

E foram muito felizes

Uma vez pediram-me em casamento e eu não resisti. Foram muito felizes esses anos. Os anteriores também tinham sido. E recordo-me, quando me divorciei foi igualmente a utopia da felicidade que me animou o destroçar. A minha vida é, de uma forma genérica, tão pacóvia e ordinária quanto feliz. Não tenho por isso aquela matéria empírica que poderia tornar interessante qualquer coisa que eu dissesse sobre o casamento. Ainda há pouco, ao procurar na wikipédia, descobri uma forma de casamento que desconhecia e o qual tenho praticado com abundância: o nuncupativo, que é realizado oralmente e sem formalidades. Não me entendam mal. Eu gosto dos casamentos formais. Tenho ainda o fraque do meu. Lembro-me da boda, senti-me um príncipe. Ela arranjou raminhos de flores, alfazema, eu caixinhas de cigarrilhas e charutos. Andámos de mesa em mesa, como putativos candidatos a uma felicidade combinada, contratualizada, testemunhada. Depois da festa, a lua de mel. O casamento é um espectáculo, tem as suas luzes próprias, os seus néons, e, vou surpreender novamente, gostei muito que o meu casamento tivesse tido aquele charme ofegante da pequena burguesia. Nunca mais me casarei, sou homem de uma só mulher, mas o cerimonial intenso que aquilo representa ainda hoje me comove. Tornei-me beato com a solidão. Gosto de me levantar cedo nas manhãs de domingo e ir de igreja em igreja, de capela em capela, à procura de casamentos. É um prazer intímo, talvez um pouco perverso, mas gosto de ver um casamento ainda em flor. Sento-me nas pedras da igreja, longe o bastante para poder ter um ângulo de visão suficientemente abrangente de todos os movimentos dos nubentes e imagino-lhes a caminhada, a descida lenta e piedosa aos infernos em que hão-de tornar as suas vidas. Os filhos, as promissórias, as noites em branco, as dívidas, as dúvidas, as raivas, esse enfurecer sem chama, as traições, @s amantes. Tenho um caderninho de capa preta onde aponto os casamentos que não irão vingar. Podem durar um mês, um ano, até uma vida, mas não irão vingar. Num de capa branca assento os casamentos duradouros, que perduram para lá dos seus destroçares. Não sou propriamente uma pessoa normal, igual às outras. Alimento-me do drama humano. O meu caderno branco está quase vazio. Há-de haver, mais cedo ou mais tarde, uma traição. Porque o casamento, na sua alvura, no seu riso, na sua imensa plasticidade, tem em si os germes de uma doença tão grande como o mundo: a mentira, a traição, a dor, a exclusão. Por exemplo, na vida normal, se houvesse vida normal, não lhe chamaríamos traição. Diríamos, actos de vontade. É a vontade que nos coloca aqui. Ou que nos faz ir embora. Mas os casamentos, na sua aparente estabilidade de marfim, na sua excentricidade, são actos que tentam exaurir cada vida da (im) possibilidade de (in) felicidade que ela contém. Eles são actos todos eles para o meu caderninho preto. Mais cedo ou mais tarde. É nisto que gastamos a nossa vida. A dura caminhada. Cada um arranja os seus truques para sobreviver. Os meus de escriba são evidentes e vêm-me da infância, dos tempos das primeiras semanas de aulas. Comprávamos os cadernos para a escola e depois arranjávamos rolos de papel plastificado para forrá-los e protegê-los dos gastos da usura. Era uma segunda capa que acompanhava toda a vida útil das sebentas e cadernos. Faço o mesmo com os meus caderninos onde anoto esta felicidade avulso que encontro por aí em capelas e sacristias, ou até, nas conservatórias do registo civil. O caderno preto está forrado com um papel multi-resistente, branco, de uma brancura radiante, extrema. E o branco, quase vazio, de um papel negro, escuro, que se confunde muitas vezes com a fuligem do inferno. É assim que sobrevivo e que vou chamando felicidade a esta fina retícula de poeira que me cobre o horizonte, enquanto vagabundeio à procura da brisa-beijo.

quarta-feira, maio 02, 2007

1º de Maio

Ontem peguei na bicicleta e fui até à Alameda. Segui depois para Alvalade, apanhando o cortejo do Oprecariado ali ao pé da estação do Areeiro. Reconheci uns amigos e lá fui em marcha lenta, ao som de palavras de ordem como "País Precário/Sai do Armário", ou "Movimento Flexi", glossando a coreografia muito em voga nos espaços disco do "movimento sexy". O oprecariado era sem dúvida a zona mais criativa e mais imaginativa deste passeio de 1º de Maio. Senti-me solidário com eles, eu que só sou precário quando escrevo e já escrevo tão pouco! Encontrei também rostos que já não via há mais de vinte anos, uns, de dez anos outros, os mesmos abraços de circunstância, mas cada vez mais frios, mais passos em falso, vazios. A certa altura tive vontade de ir embora, aquele cortejo não me parecia de vida, os jovens estavam vivos, os seus slogans também, mas havia ali um cheiro inexplicável àquele bafio do tempo. Há coisas que não são para explicar. Podemos partilhá-las assim em bruto, com quem se oferece assim ao entendimento, mas os seus significados escapam-se por entre os dedos explicativos. Depois do cortejo chegar à Cidade Universitária foi a vez de falar Carvalho da Silva. Tenho-o como um homem honesto, íntegro, de ideais e por vezes, na tv, gosto de o ver quando colocado junto a uma paleta de políticos descarnados, desmemoriados. Faz figura. Mas ali à frente de não sei se um milhar de pessoas, a falar para o vazio como se aquela grande alameda estivesse repleta de espíritos e corpos vibrantes, parecia um daqueles tesouros deprimentes dos Gatos Fedorentos. Tudo no que dizia era velho, gasto, sem força. A única sombra de luminosidade que passou pelo seu discurso foi quando reconheceu que os trabalhadores estão desmotivados com o movimento sindical e que não lhe darão muito mais oportunidades do que a próxima greve geral. O momento a seguir foi patético. Uma outra voz veio dizer que depois do camarada Carvalho da Silva ter falado já nada havia para dizer mas que havia ainda uma moção de apoio à Greve Geral para votar, leu-a, e depois perguntou, alguém se opôe?, ouviram-se uns gritos, uns hurros e umas palmas, e logo, célere, expedita, a conclusão, a moção foi aprovada. Sorri. Há muito que tudo isto não me entristece. Já nem significa. A marcha da exploração do ser humano por outros seres humanos está, como sempre esteve, aí. E parece imparável, quando vista pela perspectiva destes movimentos de contenção do capitalismo, como o movimento sindical, que o Séc. XX exacerbou. Porque o grande problema, e a grande oportunidade, é que já não é pelo dizer que libertamos a nossa vida. É pelo fazer. A exploração do proletariado urbano ou rural, agrícola ou industrial pelos grandes detentores do capital poderia ser um título para uma fascinante viagem no tempo, mas já não nos ajuda a perceber as formas actuais de exploração do ser humano pelo ser humano. Os mitos da propriedade já eram. A propriedade só existe enquanto possibilidade de sobre ela se construir um determinado discurso de sedução. As dinâmicas do consumo são muito mais fortes porque fornecem um padrão universal de catárse e de libertação do sujeito. É na tentação autofágica das grandes classes médias do mundo que podemos encontrar uma das principais explicações para o sofrimento social contemporâneo.
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Foto do Absorto

domingo, abril 29, 2007

Da degenerescência das coisas substantivas

coisas que não se deveriam escrever, outras que não se deveriam ler. Mas já que as escrevemos e as lemos, fique-nos ao menos um consolo: há ainda um 25 de Abril que nos divide o que, para nós que escrevemos em blogues, não deixa de ser promissor. É claro que, sobre esta questão, o discurso de Paulo Rangel, o principal talvez nos escape entre os dedos e talvez se resuma a um argumento do Luís ( se o próprio lhe prestou a devida atenção é outra questão): " a intervenção de Paulo Rangel é um acto esquizofrénico em relação à actuação do Governo e do seu próprio partido". Ou seja, a intervenção de Rangel enquanto ataque de um deputado da bancada do PSD ao Governo acaba por afundar-se na mera retórica da chincana política e aí a ideia de que aquilo confere dignidade a alguma coisa parece totalmente excêntrica. Dizer que "nunca como hoje se sentiu uma tão grande apetência do poder executivo para conhecer, seduzir e influenciar a agenda mediática" tende, sorrateiramente para a demagogia. O que é o hoje? O hoje de Sócrates? O hoje da sociedade contemporânea, onde integramos a actuação política dos principais partidos? O hoje de Paulo Portas e Durão Barroso onde ainda hoje não se sabe - saber-se-á alguma vez para além da dulcíssima suspeita que se tornou amante de quase todos os nossos actos políticos?- até onde o controlo nas secretas, da agenda mediática, do combate político assassino, condicionou a República? O mais grave de tudo isto é que Paulo Rangel não tendo razão, falou de coisas verdadeiras, coisas que nos deveriam preocupar a todos, coisas para as quais não nos basta a nossa preocupação. Eu não sei explicar isto muito bem mas é mais ao menos assim o que eu penso: estamos a discutir o nosso tempo com o aparato ideológico que herdámos. Só que o nosso tempo, naquilo que ele tem de mais perturbador, já não é este mas o outro que neste se anuncia. Teremos por isso de o discutir com instrumentos ideológicos desse outro tempo que já hoje se anuncia ou então nunca perceberemos nada daquilo que se passa à nossa volta. Parece díficil? O mais complicado ainda está para vir: para construirmos os instrumentos ideológicos que nos ajudarão a compreender o tempo que se está a forjar nas horas, nos minutos e nos segundos que aqui e agora são, temos de utilizar os esquemas ideológicos que temos arreigados dentro de nós. Já parece suficientemente difícil a tarefa? Ainda não é nada. Vamos lá ao nosso aparato ideológico: ele tem lá dentro um lado A e um lado B. O lado A é o da conservação da tribo através dos trabalhos e ofícios de manutenção do paradigma político, seja ele qual for. O lado B é o da sua superação. É a destituição da tribo, a ideia de comunidade inter-tribal. Conhecemos o exemplo de Gorbachov. Cresceu dentro do partido, ascendeu ao poder como voz do lado A e tornou-se uma referência mundial a partir do momento em que organizou o seu discurso político a partir do lado B.
No outro dia tentei aflorar a questão quando falei da forma como todos nós interiorizamos distraidamente o modus operandi totalitário. Sócrates, Portas, Durão, não têm importância nenhuma neste contexto, não é por eles que chegaremos às evidências necessárias. Pelo contrário. Como estamos a construir o totalitarismo em democracia, o que Sócrates avançar no domínio do controlo totalitário sobre a informação que dispomos, que colocamos disponível, será usufuido por um Rangel, um Paulo Rangel que nessa altura já não terá dignidade nenhuma e terá uma revisão em alta das suas gravatas, dos seus fatos, e tudo isso condizirá, não tenhamos disso alguma dúvida, com a estética vigente na época. Não adianta queixarmo-nos. É assim. Cavaco Silva absteve-se no tratado de adesão e foi o primeiro governante a tirar reais dividendos políticos da nossa integração comunitária. Sendo assim o discurso de Rangel é tão importante como a sua gravata descoincidente. Querer que nós vejamos Sócrates como o Grande Ditador - e ainda por cima usando retórica de contrabando como a alusão aos recentes casos mediáticos que envolveram o primeiro-ministro - é um disparate tão grande que só terá alguma produtividade enquanto discurso de manutenção da tribo, mas que, como todos os discursos de tipo A, servem exclusivamente para isso, para esse reforço tribal.
O que o que eu quero dizer é - e não façam ainda festa nem festim da minha incapacidade de explicar o que eu quero dizer - que deveremos analisar o totalitarismo não à luz das antigas permissas ideológicas ( que nos fazem identificá-lo automaticamente com as derivas fascistas e comunistas) mas com uma construção possível nas sociedades democráticas. Politicamente estamos protegidos ideologicamente das derivas totalitárias, mas a Constituição nada nos diz, nem podia dizer, sobre a aventura da totalidade que emerge sobre cada um de nós enquanto sujeito político. Porque por mais que não o pensemos, os nossos mais pequenos actos quotidianos estão carregados de uma dimensão política. É sobre esse paradigma, o da aventura da totalidade, que deveremos discutir esta tentação do Estado controlar toda a informação, ter uma eficiência absoluta sobre os processos de controlo dessa informação. Porque o Estado socrático não se legitima sobre uma qualquer aspiração de mudança de regime - querer imaginá-lo é chegar ao rídiculo de perspectivar Sócrates como aqueles governantes terceiro-mundistas que chegam ao poder democraticamente e se dedicam depois a construir as teias e os tentáculos de um poder discricionário e totalitário - e sim sobre aquela função que lhe parece intrínseca, servir melhor a comunidade. A construção política da aventura da totalidade é apenas um dos seus aspectos. Há anos que qualquer um de nós já se excita com essa aventura de poder estar sempre em todo o lado e em toda a parte. A omnipresença e a omnisciência são duas das condições que qualquer um de nós pede, que digo eu?, pede?!, exige, ao deus tecnológico. Hoje, ao contrário de ontem, o totalitarismo não parece um dispositivo político e ideológico claro, que identifique sem margem para dúvidas opressores e oprimidos. Nem existe repressão, no sentido que nos habituámos a conferir. O que existe hoje é mais suave, chama-se contenção. O Estado, seja o Barroso, o Socrático, contêm as hordas, as tribos selvagens e aí age num pressuposto securitário que encontra eco dentro de nós. Existe antes uma euforia do sujeito entregue à aventura da totalidade. Eu concordo com todos os que se levantarem para exprimirem a sua perplexidade pela forma como esta aventura parece incapaz de nos fazer chegar a uma ideia de felicidade que, como mnemónica de outros tempos, alguns de nós ainda têm dentro de si. E que por isso não a devem esquecer. Devem ser dela testemunho. Para que a perplexidade se instale e a inquietação ainda seja traduzível como sinónimo de felicidade. Há também que não perder de vista isto: a ligação, a conexão, a integração, qualidades que, euforicamente, estamos a explorar hoje, são também elas condições que parecem realizar-se, de uma forma mais plena, ou de uma forma que antes não conhecemos, na aventura da totalidade. Estas atitudes do Estado, que parecem tiques herdados dos totalitarismos tradicionais, não são mais do que emanações da imersão do viver comunitário na aventura da totalidade onde cada um de nós já cedeu, a troco da integração, da conexão, os seus privilégios identitários para um enorme banco comum de dados.
Não vejam nas minhas palavras alguma luz. Eu não sei pensar o que aí vem. Ainda só compreendi a inutilidade de insistirmos em pensá-lo a partir do que já passou.

quinta-feira, abril 26, 2007

Código PIN

Eu não sei contar histórias. Às vezes invento-as, outras, por condescendência, algumas pessoas inventam-nas por mim. Mas não sei contar histórias. Por exemplo, como é que eu iria contar que este país já foi uma grande coutada e que depois deixou de o ser e passou a ser regido por PDMs e que, face ao malefício que os PDMs fazem aos negócios, se inventou uma espécie de sigla que é uma mistura modernaça de uma senha, com qualquer coisa bafienta, rançosa, salazarenta, a que nem por decoro, se escusaram de designar por interesse nacional.

quarta-feira, abril 25, 2007

A Indomável Arlete

Telefonou-me o Pedro Queiróz, a dizer-me que a mãe tinha falecido hoje. Há muitas maneiras de recordar a Arlete*. Ela foi a mãe do Pedro mas também de todos nós, os que fazíamos o nosso porto de abrigo na sua casa, em cujas paredes nós podíamos escrever poemas, desenhos. Recordo-a, por agora, numa homenagem breve, com as palavras que o António, seu marido, escreveu por cima da porta da sala que dava para o corredor: "-A indomável Arlete!". E com as que ela própria escreveu, em letras garrafais, na parede do fundo da sala: "Saúde é a alegria de viver e de criar".
E será em Abril, naquele dia 25 que, desde há trinta e três anos, sempre lhe trouxe um cravo vermelho, que se tornará partícula, cinza, poeira, naturalmente cósmica.
[Acabo de passar na homenagem que o João Monsanto lhe fez aqui e percebo a razão de ser da minha alegria, discreta, recolhida é certo - e que de tão reservada quase se diria apática - mas alegre. É que as pessoas como a Arlete não desaparecem assim, à primeira morte que lhes aparece pela frente. ] lk ç l................
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*Arlete Canhoto Abreu foi durante muitos anos professora da Escola de Enfermagem Calouste Gulbenkian de Lisboa tendo aberto, de forma absolutamente pioneira no contexto do ensino da Enfermagem em Portugal, os Cursos de Enfermagem a experiências que valorizavam a animação sócio-cultural, as terapias expressivas, a expressão artistica e a criatividade, tendo marcado gerações sucessivas de alunos. A minha ligação a esta Escola, desde 1992, surgiu a seu convite e foi com ela que trabalhei durante quase oito anos. Referências no Respirar: Vinte anos abertos ;Testemunho de João Monsanto, seu amigo, com quem Arlete Abreu trabalhou de uma forma continuada durante mais de vinte anos, encontrado no seu site.
Informação: O corpo estará amanhã de manhã na Capela Mortuária do Centro Paroquial de Santa Maria dos Olivais nos Olivais Velhos (acesso pela Av. que, na continuação da Avenida de Berlim, segue para a Gare do Oriente) , onde, pelas 12h, haverá uma cerimónia litúrgica. Será cremado pelas 13h30, no Cemitério dos Olivais.

quarta-feira, abril 18, 2007

A doença como metáfora

" A doença é o lado sombrio da vida, uma cidadania bem pesada. Ao nascer, todos nós adquirimos uma dupla cidadania.: a do reino da saúde e a do reino da doença. E muito embora todos preferíssemos usar o bom passaporte, mais tarde ou mais cedo cada um de nós se vê obrigado, ainda que momentaneamente, a identificar-se como cidadão da outra zona.
O meu propósito não é tanto descrever o que significa relamente emigrar para o reino da doença e aí viver, mas antes as fantasias punitivas ou sentimentais que se constroem acerca dessa situação: não uma geografia real, mas antes estereótipos de carácter nacional. O meu tema não é a doença física em si, mas o uso que se faz da doença como figura ou metáfora.
A minha tese é de que a doença não é uma metáfora, e o modo mais honesto de olhar a doença - e o modo mais são de estar doente - é o olhar mais depurado, mais resistente ao pensamento metafórico. Mas é praticamente impossível fixarmos resid~encia no reino da doença incontaminados pelas sinistras metáforas que lhe desenharam a paisagem. Elucidar tais metáforas, sacudir o seu jugo, constitui o objectivo deste estudo. .../... Embora o modo como a mistificação de uma doença se processa tenha lugar num quadro de expectativas renovadas, a doença propriamente dita (a tuberculose antes, o cancro hoje) desperta um tipo de terrores completamente obsoletos.
Qualquer doença que seja vista como um mistério e seja profundamente temida será considerada moralmente, se não literalmente, contagiosa. E assim, um número surpreendentemente vastod e pessoas que sofrem de cancro ver-se-ão rejeitados por parentes e amigos, tornando-se objecto de medidas de descontaminação pelas pessoas da família, como se o cancro, à semelhança da tuberculose, fosse uma doença contagiosa. O contacto com alguém vitima de uma doença vista como um mal misterioso éinevitavelmente sentido como uma transgressão: pior, como a violação de um tabu. Os próprios nomes de tais doenças são considerados dotados de um poder mágico. "
A Doença como Metáfora, Susan Sontag, Quetzal Editores, 1998. Este ensaio foi escrito em 1978, quando a autora convalescia de um cancro. Anos mais tarde, com o aparecimento da SIDA, Sontag escreveria A Sida e as suas Metáforas.

A aventura totalitária

Uma das situações que considero mais inquietantes na nossa vida contemporânea é o modo como permeabilizámos os nossos sistemas de representação (social, cultural, política, etc) à avalanche de um novo tipo de totalitarismo e autoritarismo que se constituiu como discurso não assinalado pelos habituais detectores de signos totalitários. Conseguimos facilmente identificar a xenofobia, o racismo, o nacionalismo, as apologias dos diferentes movimentos de natureza neofascista, como manifestações emergentes de um discurso totalitário, mas temos uma grande dificuldade em apercebermos da forma como o modo como organizamos a nossa vida, como falamos de nós e dos outros, como constituímos pensamento, cria por um lado uma disponibilidade interior para a emergência dentro de nós do modo de ser-estar totalitário e por outro uma atitude negligenciadora e mesmo disciplicente em relação à critica dessa irrupção do totalitarismo. São dois momentos diferentes mas que parece obterem um estranho conluio, só que um, o primeiro, caracteriza-se por uma euforia, uma exaltação e o segundo por um medo de que ao pensarmos percamos a conexão com o real. O primeiro é a euforia da publicidade, das mitologias reinantes, do simulacro e da simulação, da realidade já sem marcas de real. Deveríamos um dia poder gravar as conversas sobre o quotidiano. Sobre o que vestimos, sobre o que vemos na televisão, sobre o sexo, sobre o género, sobre o que compramos, sobre o modo como nos divertimos, sobre os modos como porporcionamos divertimento aos nossos filhos. Depois iríamos à arrecadação buscar uma daquelas grelhas de análise estruturalistas e contaríamos quantos vocábulos que expressam uma ideia, um desejo, uma ânsia de totalidade utilizámos e qual a reacção do nosso interlocutor face a isso. Ou seja, a rapidez com que se identificou totalmente com aquilo que dissémos, muitas vezes alargando o contexto desse afecto totalitário. O eu penso ou o eu acho, quando muitas vezes nem houve tempo para aquela operação que pode qualificar o pensamento, a operação de vinculação a uma experiência, seja ela imaginária ou real, e muito menos a procura de uma identidade. Os nossos espaços quotidianos são muitas vezes múltiplos workshops interpessoais onde experimentamos a vivência do totalitarismo, naturalizando-o, interiorizando-o. Os jogos tipicos do desenvolvimento infantil como o mimetismo, levamo-los pela vida fora, sempre. Somos pequenos protótipos de mesmificação. E por outro lado, tentamos anular a nossa tendência para sermos acção e crítica da acção. Critica para quê, se é por ela que nos individualizamos e nós queremos tribalizarmo-nos? É de notar que as tribos modernas evoluiram muito, desenham-se na heterogeneidade, na multiplicidade, na diversidade. O grande problema: isso não é só falso, é também verdadeiro. Realmente as nossas tribos estão mais abertas ao diferente, ao diverso, tanto no plano discursivo como no plano pragmático. Só que nem sempre o tempo joga a favor da actividade crítica. É preciso formar opinião muito rapidamente. E como permanecem activos os dispositivos ideológicos do pós modernismo e do relativismo, tudo se tornou ficção, ficcionável. Para quê esse investimento na realidade então se tudo pode ser relativizado? Por exemplo, houve um caso muito falado recentemente sobre uma sentença de um julgamento que envolvia o Público e o Sporting. As posições de uns e outros estavam expressas no mesmo ciberespaço onde estavam o acordão do tribunal. Isso não impediu que, independentemente da divergência de pontos de vista, estes fossem formulados a partir de dados contraditórios uns com os outros. É apenas um exemplo. Todos nós * conhecemos essas marcas no real que habitamos.
O que eu quero dizer é que quando no plano ideológico e político nos apercebemos que se está a forjar uma dicotomia, um exarcerbar maniqueísta, que visa permitir aos sistemas ditos democráticos responderem de forma totalitária, já é demasiado tarde. Já, nos nossos dias, incorporámos de tal forma a aventura totalitária que perdemos a capacidade de nos ligarmos e conectarmos com o outro. Ele é uma ameaça.
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* Estava já a corrigir o post detectei esta marca de totalidade neste mesmo texto. Como é que eu sei que todos nós conhecemos estas marcas no real que habitamos? Fiz algum estudo, andei a perguntar?

quinta-feira, abril 05, 2007

O meu amigo

O meu amigo é beleza pura. Olho para ele e dificilmente vejo olhos, nem mesmo aqueles olhos vivos, expressivos, indíos, nem nariz, nem boca, nem orelhas, nem rosto. Vejo tesouros sulcados na terra, no ar, nos mares. É como se a sua face fosse o mapa das histórias que me conta. Há quase sempre algo de épico nelas. Com ele compreendo o verdadeiro sentido da palavra justiça.
Eu quase que nem consigo falar na sua dor. O que é que eu posso saber de alguém que fala da justiça como se falasse da sobrevivência do seu povo enquanto povo? Eu sou de um país que quase não existe. A primeira vez em que ele me falou na absoluta necessidade que a Colômbia tem de fazer justiça às vitimas da guerra, eu duvidei se ele me falava mesmo de justiça ou de um lastro de ódio, de vingança. Tive de lhe fazer algumas perguntas para perceber que se se me tivessem morto metade da minha turma de escola, os amigos de infância, quem não saberia se seria capaz de se livrar do ódio, da sede de vingança, seria eu. Afortunadamente ele é das poucas pessoas que conheço que não odeia. Há um mês comandos para-militares mataram quatro jovens numa rua de Apartadó. Talvez estivessem a consumir marijuana, cannábis. As famílias dos jovens massacrados dividem-se. Não denunciar é fazer com que aquelas mortes nunca tenham existido. Calar é não conseguir esquecer, numa mistura barrenta de dor e de remorso. Denunciar a uma Justiça conluiada com os para-militares é correr perigo mas é permitir que aqueles que trabalham para defesa das vitimas da guerra possam cartografar o mapa do terror, da morte. É aqui que eu e ele conversamos sobre justiça. Ou seja, ouço-o, sobre a justiça só sei escutá-lo. Justiça na sua boca é um palavra que eu não sei pronunciar. Fala-me de todo o trabalho sobre o levantamento das vitimas como uma possibilidade, como a única possibilidade para o seu país. E por mais absurdo que pareça fazer justiça não é tanto colocar na prisão os assassinos, os torturadores, os corruptos, aqueles que semeiam de sangue as terras verdes, amarelas e vermelhas da sua terra. Nunca tal seria possível senão derrubando a opressão. Mas a opressão não nasce da mesma árvore. A tentativa de libertação da opressão trouxe mais violência, mais mortes e mais opressão sobre aquele terra calcinada. A justiça que se pede agora não é a que se restituam os mortos. É apenas que se diga a verdade. E nessa verdade cabe o dizer-se que o contexto político beligerante serviu para muitos crimes, usurpações e roubos. O imenso trabalho a fazer é construir uma história que permita assassínos, para-militares, guerrilheiros, torturadores e torturados serem parte de um mesmo país. Nunca se trarão à vida os mortos. O sonho do meu amigo não é esse: é tirar a morte dos dias da sua terra, deixá-la florir apenas com as memórias das histórias que se confundem com as narrativas de Garcia Marquez.

terça-feira, abril 03, 2007

A vida dos outros

Não sei se a vida dos outros é um filme. Parece mais um poema. Visão cruel e realista sobre a Stasi, os seus métodos. Sobre o regime comunista da antiga República Democrática Alemã. Mas também um longo poema sobre um homem que descobre que a Stasi está a servir para alimentar os interesses corruptos de um alto membro da nomenclatura do Partido e que começa a desfazer a própria urdidura que montou. E que acaba por pagar o preço da sua deslealdade, sendo desterrado para um posto onde a sua missão mais relevante é abrir cartas com vapor. As coisas nunca se passaram assim. O agente HGV, nunca existiu. Mas podia ter existido. E sabermos que podia ter existido não desmancha o terrífico que é sabermos da nossa capacidade de montarmos uma engrenagem tão triste, tão infeliz e tão cruel como a Stasi. Sabermos isso é apenas um poema. Um belíssimo poema.

sexta-feira, março 30, 2007

Xenofobia: o que fazer?

Qual é o antídoto? Um pequeno partido que se nomeia representante do ódio e de um pequeno número de portugueses junta os trocos que lhe sobraram da campanha de telefonemas para eleger o Salazar um grande português e coloca no Marquês de Pombal um outdoor provocador, xenófobo e de natureza racista. E nós o que fazemos? Se falarmos disso estamos a dar eco a uma campanha tão pindérica como bem imaginada. Se não falarmos, estamos a reduzir o impacto da propaganda mas estamos a deixar sem um sinal de apreço a comunidade de imigrantes que vivem no nosso país. O que fazer?

quinta-feira, março 29, 2007

Brinches, no mapa das energias renováveis

Portugal tem a maior estação de energia solar do mundo. Ora aqui está uma marca do Guinness que nos honra.

sábado, março 17, 2007

Alice, a mulher de quem não se fala

Uma criança raptada foi entregue aos pais. A história tem contornos que tendem a desenvolver sentidos contraditórios. Há por exemplo uma ligação explícita com a história de Esmeralda e que caminha no mesmo sentido: a nossa compreensão de que a constituição dos núcleos familiares já não obedece às mesmas permissas com que a maioria de nós fomos educados. As famílias dos casais homossexuais, as famílias monoparentais, uma crescente valorização da adopção como atitude não egoísta em relação à paternidade, são temas fortes do nosso mundo. Fazem parte da discussão que fornece o enquadramento ideológico que forja a cada um a sua marca identitária. Por esta ordem ou não. A própria interrupção voluntária da gravidez enquanto discussão sobre a ética e a vida. Em tudo isto há muito de simulacro e simulação e provavelmente não estamos já apetrechados para perceber a medida com que ocorre essa manifestação simuladora . Viramo-nos para o mistério da vida e da morte. Mas há mais do que isso. O circulo mediático oferece-nos o espectáculo. O bom povo de Cernadelo somos todos nós. Tudo é perfeito e perfeitamente moralista. A pequena Adriana voltou para casa de seus pais. A Segurança Social e os Tribunais desta vez puderam estar ao lado da população. A comunidade juntou-se, fez a festa, montou o circo, quotizou-se, fez da família Pinto o seu conto de fadas. Até a malvada da raptora sucumbiu diante do arrependimento e, enquanto pede desculpa aos pais, nem quer ouvir falar em recurso da prisão preventiva. O que é compreensível. Ela já não tem casa. O seu marido, aquele mesmo que durante meses não reparou que a sua mulher não estava grávida, teve também um arrebatamento de um homem justo: uma prisão com grades talvez seja um lugar mais humano para esta mulher. Alice também nos interroga enquanto espécie: afinal o mal e o crime não são sempre expressão do horrendo. Neste caso dêem-se as honras da nossa humanidade a Alice: ela quis ser mãe, o que é comum e natural numa mulher. Ela quis dar um filho ao seu marido, e esse agrado da mulher ao seu marido é também desejo de todas as mulheres casadas. Há aliás expressão bíblica para esse cometimento. A raptora de Adriana tratou da sua filha Joana durante estes treze meses, amando-a, cuidando dela. Provavelmente o maior erro que terá cometido foi em tanto querer agradar e festejar a um homem que afinal, parece que a queria e festejava tão pouco. Alice, da prisão da vida para as grades da sua cela, talvez venha a descobrir alguma tranquilidade na clausura. Esperemos que sim. Afinal, como todos nós, ela também parece uma boa mulher.

quarta-feira, março 14, 2007

O pessimismo?

O mundo tornou-se um lugar deprimido. Não falo de cada um de nós. Digo o mundo. Nós, os que estamos entregues a esta loucura da normalidade, entristecemo-nos por vezes e alegramo-nos outras. É a nossa vida. Não falo disso. Digo que o mundo se tornou num lugar deprimido. Oferece pontos de fuga, esconderijos, oásis, resorts, condomínios fechados, lugares ecológicos mas tudo isso reforça a condição depressiva do mundo em que vivemos. Poderemos ser felizes individualmente, mas essa felicidade destrói-nos eticamente. Temos de ser felizes juntos. É a nossa maldição. Como sair daqui? Visconti sublinhava a natureza revolucionária do pessimismo. É através dele que sairemos deste impasse? O mundo não tem uma felicidade verdadeira desde o Muro de Berlim e a Perestroika. Precisamos de ser felizes. Ser felizes não é fecharmos os olhos, não queremos ver, não queremos pensar. Seremos felizes com todas as verdades inconvenientes. Fiquei animado com um comentário que assinalava a alegria que se desprendia dos meus últimos posts. Eu, à força de me ver triste, via-os tristes também. Afinal só eram tristes quando os escrevia. Quando se escreviam, autónomos, independendentes da sua tristeza originária, eram alegres. Estou muito mais animado. Não estou a aumentar a tristeza do mundo com os meus posts impregnados de desesperança. E como a tristeza é uma condição a que não me posso furtar, a menos que faça deste escrever um gesto ainda mais triste e desesperançado, posso continuar a escrever postes tristes e, aos poucos, enquanto os leio, forjar-me na alegria.