terça-feira, novembro 06, 2007
Elogio da política: Licença de encantamento
Há muito que me dei conta: perdi-me para a política. Claro que isso é uma forma de me reconquistar para ela embora isso seja outra conversa. Mas aprecio os homens e as mulheres que, independentemente da cor das bandeiras que agitam, enobrecem a política tornando-a o fazer que descomplifica a vida dos outros, e principalmente, a vida dos que mais necessitam. Reconheço que este "os que mais necessitam" é uma frase com ressonâncias políticas e religiosas que se ligam a ideários dos quais há muito me desvinculei, mas continuo a proferir assim este meu elogio da política. E acontece amiudadas vezes, provavelmente não tantas como gostaríamos mas ainda assim as suficientes para que delas façamos exemplo. Por exemplo, quando o meu filho nasceu, apreciei o gesto do legislador político que me deu a possibilidade de fazer um turno inteiro para poder ir buscar o meu filho uma hora mais cedo. Apreciei eu e apreciou ele, que ainda hoje me diz que se lembra dos passeios que dávamos os dois pela Avenida da Igreja, antes de estacionarmos no tradicional queque e copo de água da Biarritz. Estou sentado no jardim. Passam por mim um par de namorados que se vê, pelo calor das mãos entrelaçadas, pela doçura com que se trocam, têm ainda o namoro a estalar-lhes de novidade entre os dedos, nos lábios, nos olhares cativos. E outra coisa que me apercebo: amam-se à pressa. Ele trabalha numa pequena oficina do bairro, ela é empregada a dias nuns senhores da parte rica da vila. E eu percebo o dano, o prejuízo, que tudo isto é para a vida que vivemos. É por eles que um dia poderei dedicar-me á política. Com uma única promessa, um único programa, um único texto: fazer todo o meu combate político centrado no facilitar a vida dos amantes. Promover por exemplo uma licença que consagre o direito de todos os homens e mulheres convertidos ao enamoramento poderem usufruir de três dias seguidos da festa, da poesia, do esvoaçar que o encantamento é. E até, para os mais carenciados, um pequeno subsídio - curto que a ordem não é rica e os frades são muitos - para que os encantados possam ter um mimo, um pequeno incentivo para a experiência de dádiva que o amor é. Não tenho alguma dúvida: seria uma pequena medida legislativa mas um grande passo para a comunidade.
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10 comentários:
Ora aí está um belo preâmbulo de programa eleitoral ;) Abçs
eu oponho-me, agora incentivar e subsidiar o que há de melhor na vida... como se a gente, quando se enamora, não arranjasse essa licençazinha dê por onde der (quantas noites sem dormir à conta disso?). vá, propostas mais arrojadas ou assim não voto em ti,pá.
Pois, a mim, bastava-me uma auto-estrada mais curta e, já agora, com isenção de portagens para namorar.
Onde é que se assina?
Abraço
Que chatice seria o amor por legislação.
Mas pensando bem, poder transgredir a lei...
Ora aqui está um grande post. Eu começava por legislar o direito a ter tempo, a não trabalhar tantas horas e a não ter que carregar em cima o peso do estigma que tem que se trabalhar para ser alguém na vida, como se o trabalho fosse a única dimensão do nosso ser. O direito a poder ir buscar os filhos à escola e fazer com eles calmamente o caminho para casa, parar em várias sitios e poder fazer com calma a rotina doméstica.
Com isso já podiamos todos namorar com mais calma.
Onde é que se assina a lista das 50000000000000 assinaturas para a tua eleição? só tenho caneta cor-de-rosa metalizado, pode ser?
amiga, maior que o pensamento, não votes em mim, please...
pensa em grande...imagina que vives numa capital europeia...por exemplo Barcelona...
:)
Kioto, mon ami. Ou Hong Kong ou NY ou Veneza.
Que como Barcelona não são capitais.
sete e picos, nada de ideias. em Barcelona ainda vamos suportando a tua ausência...e arranja o colchão das visitas, quem sabe levamos o bacalhau, as couves e as azevias...
aiii as azevias de grão, são a minha perdição.. Quando chegam? está tudo pronto á vossa espera.
Um abraço de saudades desta que já não está infoexcluida.
Pois MR, ao que parece transgredir é o seu forte...
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