segunda-feira, novembro 05, 2007

A luz do meio dia

Disse-lhe:
- Há vinte anos atrás eu tinha terror de poder chegar ao lugar onde estou.
- Onde estás?
- Não sei. Não sei nada. E o pouco conhecimento que tenho vai-se perdendo.
- E tens medo?
- Sentes-me o medo?
- Não.
- Eu também. Eu percebo que a grande aventura do conhecimento não é a colecção de respostas que um tipo é capaz de juntar sobre o mistério do existir.
- Pois não, isso são falsas respostas.
- É um tipo meter-se debaixo das saias do primeiro deus que encontra.
- O que é que fazes?
- Não faço nada. Deixo-me estar. Tento aguentar o embate deste não saber. É terrível porque nos educamos toda uma vida para a ideia de que sem respostas morremos. E afinal aquilo a que chamamos angústia não é angústia. É tempo. Apenas tempo. O meu corpo quando me calo sabe mais do mistério do mundo do que eu quando me torço nesta retórica caguinchas.
- E o que é que eu faço aqui neste não saberes?
- É uma contingência do tempo que vivi ter chegado aqui.
- E então?
- Só será verdadeirmente festa quando encontrar alguém que aguente comigo este embate.
- É isso que eu faço aqui?
- Diz amo-te muito depressa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje diria... E diria devagar, para ter sentido.