quarta-feira, dezembro 05, 2007

Linha Verde

é o tempo que me leva pela mão. chamo a isto uma viagem.
O que percebo disso? Não sei.
reconheço este caminho. a neblina forte,
os rostos difíceis, coloridos, diferentes,
a cidade escondida,
próxima estação: Alvalade
Quem somos nós, os vivos?
Eu pensava que estas perguntas enlouqueceriam. Tanto quanto o silêncio. A loucura não é o silêncio, sei agora. E as palavras, também não enlouquecem. A loucura, quanto muito, é a ausência de rumorejar que antecede o silêncio.
Mas não é o silêncio.
Próxima estação: Roma
A cidade escondida. Evoluímos na arte das toupeiras, apercebo-me. São cada vez mais atraentes
estes lugares subterrâneos. Alguém dirá: repara na nossa face, na forma como ela evoluiu e se tornou também na animália que imerge nos túneis.
Eu já tive medo da toupeira que há em mim. Um receio pânico, paralisante.
Donde me vem o medo? Às vezes penso, ele vem quase sempre do lado da tristeza. Eu sou ainda aquela criança assustada pelo toupeirar que a tristeza cava em mim. O medo vem-me pelo lado da tristeza e vai-se-me pelo lado da alegria.
E vai-se quando a tristeza atinge o seu zénite, o seu superlativo absoluto deste seu ser triste e, nesse excesso, começa a reconhecer-se contente.
Próxima estação, Areeiro
O que é a alegria? Uma festa de vivos, para vivos? Ouço os rostos, ouço as vozes, as idades. Começo a somar tempos dentro desta carruagem.
Continuamos vivos.
Anjos. Próxima estação, Intendente
Falta ainda a tecnologia mais sofisticada: o homem, a mulher. Fazer de um homem e de uma mulher um ser humano incondicional. Se um dia a tecné o conseguir, paradoxalmente, nesse dia em que a nossa humanidade se libertou, nesse dia se extinguiu.
Próxima estação: Martim Moniz

Vou começar a escrever posts em diferido. Algo tinha de mudar na minha vida. Rossio. Subirei a Rua do Carmo? Subirei ao Carmo enquanto ouço João Afonso, Outra Vida?

Baixa-Chiado. Há correspondência com a linha azul.

O dia-a-dia. És tu e depois a música que me salvam os dias, todos os dias. Gradualmente decoro esta religião dos sentidos. Seis, incluindo o tacto.

2 comentários:

CCF disse...

Joaquim, sei que é vida...mas de repente vi isto em cena como se fosse uma peça de teatro:)
~CC~

Anónimo disse...

pergunto-me sobre o que foi pensado, vivido entre o areeiro e anjos