Ontem ao ouvir Augusto Santos Silva na televisão centrar a sua principal atenção para uma vaiadela numa reunião de militantes em Viseu, percebi que há uma forte tentação no Partido Socialista para não conseguir entender o que se passou ontem no Marquês, na Av. da Liberdade, nos Restauradores, Rossio e Terreiro do Paço. Ainda bem que o PS tem militantes como ele.
Porque o problema da situação gravíssima que se vive hoje na educação não pode já ser visto, como escreve o Eduardo, com uma questão de coerência programática da ministra com aquilo que era o programa de governo da maioria socialista. E que não perceba que a maior manifestação de coragem política de Maria de Lurdes Rodrigues seria reconhecer o catastrófico resultado político obtido pelo seu ministério. É isso que se espera de uma ministra de um governo socialista. Que saiba escutar, ouvir. E auto-avaliar-se.
Por isso, o problema talvez não seja de decência. Como dizia uma amiga minha, isto parece aquela história daquele tipo que vai em contramão na autoestrada e diz para a mulher, xi!, olha a quantidade de gente que vai em contramão!
É que parece que neste caso não há salvaguardas para "a catadura da ministra da educação, as vicissitudes originadas por algumas metodologias erradas e calendários mal aplicados" . O que se deve ter a coragem política para dizer é exactamente o contrário: salvaguardando o facto de a ministra estar a cumprir o programa que o PS sufragou nas urnas - e as condições de reforma estrutural que este ideário programático preconizava - há que reconhecer o falhanço político da implementação desta medida. E os primeiros a reconhecê-lo deveriam ser não aqueles que estão contra o ideário - já que para eles se ele não for aplicado, melhor - mas aqueles que reconhecem nele possibilidades de mudança, de melhoria do sistema educativo. E é exactamente porque o que está em causa não é apenas o programa do Governo, mas a circunstância da ministra ter conseguido reunir na mesma indignação aqueles que sempre estiveram contra o programa do Governo com aqueles que embora podendo reconhecer-se nesse programa estão indignados com a forma como ele está a ser aplicado, que a actuação desta equipa ministerial, cada vez mais sem recuo possível, caminha para um monumental chumbo. Sócrates terá, como qualquer aluno, de ponderar se quer tentar ainda salvar o ano com duas negas ou se já está mais inclinado para repetir o ano.
Chama-se a isto bom senso. Bem essencial tanto à tarefa educativa como à gestão.
3 comentários:
Caro JPN
É tal como dizes. A avaliação tem de ser para todos. Os que avaliam, os que são avaliados e os que entendem que as avaliações são boas só para os outros. Como as avaliações são pessoais e não programáticas, a Ministra da Avaliação deveria tirar as respectivas conclusões sobre o seu desempenho)
No fundo é uma questão de coerência.
(aproveito, meu caro, para recordar que aquele link para o Tugir está "fora de moda" porque o Tugir em português está extinto, faz quase um ano. Agora é mais barbas e cabelos :))
Como o JPN sabe não sou propriamente um iniciado na questão da política mas não me deixo levar em demagogias (cada vez mais busco conhecer os programas e os resultados da sua aplicação)e ainda por cima passo o quotidiano profissional a lidar com a matéria que aqui está em causa. É mesmo verdade que a maior parte das propostas que constam do programma eleitoral do governo para a educação não superior estão cumpridas ou em vias de ser cumpridas. Não sei se seria possível realizar uma gestão política condizente com os objectivos que foram definidos à partida que permitissem conciliar todos os interesses em presença. Não sei se não teriam que haver rupturas como as que estão à vista. Não vejo onde está o problemas das rupturas. A não ser que se considere que os resultados alcançados, nos últimos anos, na educação, sejam considerados bons. É que são muito maus! É como chegar a uma instituição com a missão de a gerir, verificar a urgência de tomar medidas segundo padrões universalmente aceites, e optar por virar as costas e deixar tudo na mesma. O meu discurso não é o da comiseração face ao governo, nem apoio nem oposição, é simplesmente o da verificação do prometido com o devido! Estou aliás a tratar do processo de avaliação do meu próprio desempenho como simples técnico do ME. Tenho objectivos definidos, mesmo quantificados, e terei de responder por eles. É simples ... mas compreendo que outros possam considerar que é complicado. Mas não sou professor nem posso, com o mínimo de isenção, pronunciar-me acerca das suas dificuldades e dos seus problemas.O que não quer dizer que não tenha ideias acerca da questão da educação em Portugal. Mais tarde voltarei ao tema com mais detença!
JPN, a minha questão é se é possível reformar tudo o que é necessário com o apoio dos professores porque afinal sempre que tocam no bolso e em outros interesses instalados de cada um, quase todos dizem "assim não" (isto aplica-se por ex tb aos médicos e outras soit disant "classes"). tenho gostado de ler sobre isto o Vital Moreira, no Causa Nossa.
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