O episódio Manuel Pinho é um daqueles acontecimentos, como os do teatro invísivel criado por Augusto Boal, que tem mais interesse por aquilo que provoca e suscita do que pelo próprio gesto, naturalmente irreflectido (e, há que reconhecê-lo, tratado de forma acertada pelo próprio). Se Manuel Pinho não fosse Manuel Pinho mas um actor caracterizado a rigor para simular Manuel Pinho, tudo se teria passado segundo a fórmula celebrizada por Augusto Boal: o actor sairia de cena pela sorrelva e depois o mais importante viria a seguir. O que não explicaram a nenhum dos protagonistas desta cena é que o verdadeiro episódio Manuel Pinho só começou a seguir no comportamento de todos, digo todos, os intervenientes. É claro que a imagem de Manuel Pinho foi suficientemente forte para apagar qualquer hipótese de que aqueles que fizeram logo a seguir intervenções políticas pudessem vislumbrar-se a si mesmos ao espelho desta cena. E mesmo que muitos digam, com alguma razão, que Bernardino Soares, Paulo Rangel, Paulo Portas, até Francisco Louçã e Luís Fazenda, não parece terem grande relação autocritica com a imagem que vêm reflectida no espelho, quando acordam, neste caso temos de lhes dar o benefício da dúvida: a imagem de Manuel Pinho sobrepôe-se a todas as outras. Só que, tal como no teatro invisível, o que fica depois desta cena é o triste espectáculo político que o Parlamento deu de si mesmo. As putas do regime foram à manicure tirar a merda das unhas, diria o Pacheco, se ainda por cá andasse a ranger os dentes.Nada daquilo foi sério, tudo aquilo foi investimento numa seriedade a fingir, sobranceira. Semióticas à parte, sem chifres, de touros, de diabos, ou orelhas de burro. E nesse aspecto seria bom os politicos parlamentares consultarem o estudo da SEDES que é tema também no Público. Enquanto Manuel Pinho sai como o homem comum que vai gozar umas belissimas férias, os que têm de ficar na política não vão poder gozar para sempre de gestos como o de Manuel Pinho para evitarem que o povo os veja como realmente são.
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