O fecho das urgências em Valença do Minho está no centro da revolta e da indignação da população. Um hospital de campanha e bandeiras espanholas nas janelas são algumas das medidas mais mediáticas. Fui à procura de informações e não fiquei esclarecido. Ao que parece o fecho resulta de um trabalho de reestruturação do serviço prestado no Centro de Saúde de Valença, feito para todo o distrito, e tendo em vista a maior eficiência dos mesmos. Achei nesse aspecto curiosa a posição da Comunidade Intermunicipal, que sob proposta do PP apoiada pelo PSD (o PS absteve-se) reclama a imediata abertura e pede ao governo o fornecimento das informações técnicas que levaram ao acordo de encerramento. Se ainda não têm as informações como é que já lhes é possível exigir que não seja fechado? Não deveriam também mostrar as informações que têm para justificar a exigência da manutenção da abertura? Escrevi atrás, no post Que Estado?, que deveríamos poder exigir a avaliação das funções do Estado com base em objectivos e missões concretas. Nesse aspecto é importante a atitude de premiar e avaliar os serviços dos centros de saúde. Ou os hospitais. Ora isso tem de ter consequências no sentido de se procurar uma maior eficiência dos serviços. Que os estudos, as informações, sejam contraditadas, considero-o importante para o processo de constituir a melhor decisão. Que estejam em causa rivalidades locais também me parece compreensível. Que haverá que realizar medidas para o mais fácil acesso aos cuidados de saúde da população de Valença e dos outros locais afectados pela supressão das urgências, também me parece óbvio. Agora que se queira um Estado que avalie a qualidade, a necessidade e a capacidade de com eficiência garantir a sua função de prestação de cuidados de saúde e que depois mande esse trabalho para o caixote do lixo, também não me parece minimamente sensato. E nem refiro a incongruência (saúdo todos os dias a incongruência da vida) que existe entre uma atitude muito severa sobre o peso do Estado em geral, protagonizada pelo PSD e pelo PP, e esta atitude populista (onde o PS, abstendo-se, embarcou) de exigir a abertura, reconhecendo que não conhece os dados que levaram ao seu encerramento. Uma última nota para o Governo que não fez tudo o que poderia fazer no sentido de esclarecer os habitantes de Valença da bondade destas medidas, como resulta da adesão popular aos protestos. Quando a ministra Ana Jorge diz que a urgência de Valença transmitia uma falsa sensação de segurança, essa é uma resposta que pode integrar uma informação técnico-científica importante mas que é totalmente incapaz no plano político porque não percebe que, ao contrário da segurança, a sensação de segurança não é falsa nem verdadeira. É real. Talvez o Governo deva responsabilizar-se também por fazer com que as populações se sintam seguras e para isso deve ele próprio ter como basilar o princípio da urgência na Saúde. Numa situação de crise financeira o fecho das urgências é rapidamente correlacionado com a necessidade de cortar as despesas públicas e vai, ainda mais grave, associar-se politicamente aos últimos cortes do PEC em prestações sociais. E não vale a pena lamentar a associação. É preciso ser mais convincente, mais atento e mais presente.
3 comentários:
Meu Caro,
O problema de Valença é justificado pelo Governo com números. A ministra diz que no perído nocturno só vão 1 a 2 doentes por noite ao sap de Valença e por isso não se justifica um médico e um enfermeiro. O número oficial divulgado pelo governo é 1,7 doentes/noite. Pois queira tomar nota que a Comissão teve acesso ao dados estatísticos, e o número real é 17 doentes/noite. Se verificar há uma tremenda coincidÊncia o número é o mesmo mas o governo só colocou uma vírgula entre os dois algarismos. Será que pensam que somos burros?
Quanto à falsa segurança, para sua informação o SAP de Valença e a SUB de Monção em termos que cuidades prestados e meios complementares de diagnóstico são iguais, para além de ter enfermeiros e médicos especializados em emergência médica.
Para vossa informação o SAP de Valença atendeu em 2009, 23 000 doentes, que dá uma média diaria de 63 doentes/dia, para onde irão estas pessoas. Será que para espanha?
Obrigado pelo seu comentário. Mesmo não tenho a mesma leitura em relação à justificação do Governo, já que aquilo que pude ler em relação à justificação principal do Governo (declarações de JS e AJ)não foram só os números, sim a de um plano global de reestruturação e melhoria dos cuidados de saúde (naturalmente sustentada numa avaliação(que, espero não tenha sido só de natureza quantitativa) onde os números terão grande relevância)é óbvio que os números que apresenta, face aos que suportam a avaliação feita pelo Governo, são tão discrepantes que justificam a vossa indignação e, mais do que isso, a vossa revolta. No entanto não posso deixar de aproveitar a oportunidade de o ter por aqui para lhe dizer de viva voz que, se forem verdade estas informações, me pareceram absurdas as suas exigências de que a ministra teria até determinadas horas de um determinado dia para demitir alguém, e que a sua justificação para esse pedido seria o de que ela teria "ficado muito feliz" com a execução das orientações superiores de fechar o SAP. Também me pareceu igualmente absurdo que só queira falar com a ministra, porque ela já se prontificou a ir discutir convosco as razões que justificaram o encerramento,depois de ela abrir o SAP. Na democracia que eu amo, feliz, ou infelizmente, para nós, os governos têm legitimidade para governar, mesmo quando os seus actos são maus. Face aos actos maus, a população tem toda a legitimidade para se indignar, revoltar e lutar pla anulação daquilo que considera ser a violação dos seus legítimos interesses. Geralmente os governos que além de terem actos nefastos são também eles mesmo maus, mandam a carga policial contra a população. Já assistimos a muito disso, antes e depois do regime democrático ser instaurado entre nós. Agora creio que se o Governo quer falar convosco é porque à partida reconhece a legitimidade da vossa tomada de posição. Para mim, que estou a quatrocentos Km de distância (e para quem uma revolta popular me desata mil e uma campainhas românticas em que começo a ouvir logo a Maria da Fonte!) parece-me tão absurda a sua posição como o seria a de Ana Jorge se ela dissesse que estava disposta a falar convosco mas só se vocês abandonassem a intenção de querer abrir o SAP. Por isso, espero que tenham muito sucesso, principalmente se o vosso sucesso conseguir ser o de nós todos, o de termos esperança de podermos ser melhor governados. Mais uma vez, muito obrigado pelo seu comentário.
"Quanto à falsa segurança, para sua informação o SAP de Valença e a SUB de Monção em termos que cuidades prestados e meios complementares de diagnóstico são iguais, para além de ter enfermeiros e médicos especializados em emergência médica."
A sério? Então porque deixaram morrer um doente de paragem cardiorespiratória, dentro do horário de regular funcionamento do Centro de saúde?
Houve negligência médica?
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