sábado, junho 05, 2010

Na Rua Nova da Trindade

Uma das razões porque me parecem tão fascinantes estes tempos que vivemos, é a de que a aventura da expressão e da comunicação de repente chegou ao pé da vida de cada um. Claro, com um telemóvel os meus filmes nunca serão filmes como aqueles que vamos ver aos cinemas, as minhas reportagens nunca serão como aquelas reportagens que podermos ver nas televisões mas, tudo contado e relativizado, esse privilégio de me poder abeirar da vida de um outro e de tentar elaborar a partir dele uma estória, é gesto possível não apenas através da artesania da escrita, também a partir da imagem em movimento partilhada nesta feira-franca da expressão que é a blogosfera. Nos anos setenta do século passado alguns dos nossos antecessores inventaram uma fórmula que serviu de leitmotiv a muitas das práticas de animação cultural: ler é escrever. Era a revolta contra o fazer, o fazer, o fazer, essa profusão de fazedorismo que ainda nos arranha a pele. Tudo isso foi necessário para voltarmos à escuta, à urgência de pararmos diante do outro. Entretanto passaram-se muitos anos e já não queremos todos ser artistas. O paradigma mudou: escrever é ler. O criador de filmes que já vem com o programa do computador é rudimentar mas já nos permite brincar no pátio desta ruptura epistemológica. Antes de nos afundarmos na guerra, na destruição do nosso habitat, um grito de euforia breve: Viva o século XXI.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bela reportagem! Só te falta um bom micro para ouvirmos melhor o teu entrevistado. Abraços
lg