terça-feira, agosto 10, 2010

Gente dentro de mim

Há-de sempre faltar-me duas coisas: família e comunidade. Por vezes quase se misturam. Cultivei-me na solidão e como todas as pessoas cultivadas na solidão vivi sempre na míngua permanente desses dois núcleos humanos. A minha história podia resumir-se pela maneira como, ao longo do tempo, trabalhei esses dois universos de mim. De uma certa forma posso dizer que o fim da adolescência foi também o fim da ideia romântica de solidão. A arte, o teatro, a animação sócio-cultural foi-me fornecendo alimento para o fogaréu comunitário que ardia em mim, muitas vezes sem o perceber, sem dele me dar conta. Em determinados momentos da minha vida o curso da Comuna, o Palco Oriental, os grupos da Esbal, a casa onde escrevíamos nas paredes nos Olivais, foram disso expressão mas só nos trilhos da animação sócio-cultural me fui dando conta do que em mim, e de que maneira, comunidade era raíz. A família também. Quase sempre que reorganizava os meus espaços afectivos, reencontrava uma família à qual me incorporava quase como se fosse orfão de pai e mãe, de irmãos. Com o passar do tempo, e ele, o pequeno rebento que me acompanha, ao me ir pedindo cada vez mais para passar mais tempo com a família é que me fez descobrir o quanto andava a inventar famílias para não olhar, de frente, a minha, com o passar do tempo fui dando cada vez mais importância à minha família de origem. Levo o neto para estar com a avó e aproveito para um reencontro do filho com a sua mãe. Somos árvore, somos raíz, somos ramada estreitando o céu. Dou-me conta disto ali em Sintra, no fim daquela noite magnífica em que discutímos com a incarnação juvenil de Augusto Comte. É de uma forma tranquila que agora resolvo o meu problema familiar. Sinto verdadeiramente o que é fazer parte. Fico ainda com um problema a resolver: a comunidade. Agrada-me a ideia. O caracter irressolúvel da ideia de comunidade sempre me levou a lugares que me constituiram como pessoa. Como, no teatro, o teatro andamento ou, mais recentemente, o altaCena, com quem fiz o meu texto Lugarzinho no Céu.

1 comentário:

CCF disse...

Como te compreendo...são duas coisas que (quase) todos procuramos. E quando deixamos de o procurar tendo por base uma idealização, encontramos qualquer coisa.
~CC~