segunda-feira, setembro 13, 2010

Ao lado do cais de embarque dos ferrys em Cacilhas há, desde há um ano, um farol. O ferro fundido, cuidadosamente pintado de vermelho já está, na base, coberto de rabiscos de amo-te teresas, vanessas, corações mal desenhados, frases bombásticas. Um farol plantado na praça é, do ponto de vista da arquitectura, ainda um farol. Mas não é um farol na verdadeira acepção do termo. Um farol tem de ser um lugar de solidão, um lugar separado do resto do mundo. Seja lá o que for o mundo, um farol é um lugar que comove quanto mais não seja porque nos lembra que guiar pela noite escura, seja na poesia, na escrita, no teatro, na pintura, na arquitectura, na própria política, é um lugar de uma tremenda solidão. É como se a humanidade, enquanto lugar povoado, só garantisse visibilidade do seu sentido, do seu devir, através do despojamento existencial.

1 comentário:

Paulo Buchinho disse...

Não sei se te lembras mas antes havia lá um farol ... não sei se é o mesmo ... Pesquisei agora e pelos vistos é. http://4.bp.blogspot.com/_BypZio-YqQg/S-2T7k4mh-I/AAAAAAAABkk/-lu8Jmr3K5U/s1600/+Farol+CACILHAS.JPG

Abraço