sexta-feira, julho 26, 2019

Amores em segunda mão, vendem-se

Desde o dia em que decidi morrer para o amor que a minha vida adquiriu um fascínio e um brilho que há muito não tinha. Antes, assemelhava-me em tudo a uma espécie de Hank do Californication. Claro, sem Porche, nem LA, nem álcool, nem droga e com muito menos sexo. E promiscuidade.  E menos vernáculo que dói. Mas com a mesma mentira própria, embutida, mesclada. A mentira faz parte da minha vida.
- É como uma máscara que se te colasse à pele. - disse-me Amélia, uma personagem que acabei de inventar para me sentir menos só e cujo nome roubei ao primeiro grande amor da minha vida. 
- O problema é que se arrancares a máscara, vem a tua pele agarrada.- respondeu Pat, outra personagem inventada, agora já não para fintar a solidão mas para me vingar daquela mulher que fazia amor comigo num divâ.
Tenho vozes dentro de mim. E quando não as tenho invento-as. Estou tramado. Ando aqui às voltas, como se fosse uma bicha de rabiar. 
- És um gajo honesto. - disse ela, desprezando as outras duas.
Nem me dei ao trabalho de lhe dar um nome. É uma treta, não sou nada honesto nem quero ser. Não quero ser nada. Estou farto do teatro do ser. Merda das identidades.