terça-feira, outubro 12, 2010

Mês a mês

farol

Ao menos isso nesta posta quase renegada: o post mensal é feito de vontade. Passa-se o tempo e começa a crescer em mim a vontade de não ficar pela meia dúzia de linhas facebookianas. Mês a mês a situação política degrada-se. E os países ricos e pobres da Europa com as suas crises financeiras, estão virados para dentro de si mesmos. O facto de estarmos virados para dentro de nós mesmos quer dizer que estamos menos atentos à dinâmica global do mundo mas não quer dizer que esta pare. "- Parem o mundo que eu quero olhar para o meu umbigo!". Não é assim que as coisas se passam. Os jornais do mundo perderam o interesse. O próprio Irão, o Afeganistão, a Coreia do Norte, o Paquistão, a Al-Quaeda, todos os lugares e todas as forças que para nós desafiam a paz do mundo, deixaram de existir. E estes eram os que nos assustavam. Os outros, os que nos comovem, os refugiados, os exilados, os sem terra, sem pátria, sem que comer, sem que se vestir, as crianças desvalidas de qualquer tipo de sorte ou fortuna, esses, aguardam vez no guichet do mundo e da sua política. Só por arrogância nossa é que poderemos pensar que por não lhes darmos importância, eles deixaram de existir. O mundo não deixou de ser global. Nós é que deixámos de ser capazes de o pensar globalmente, excepto na santa aliança dos mercados financeiros com as divídas públicas e privadas.
E mesmo assim, todos os dias, são dias. O sol acorda ali no mar da palha e quando se deita, do outro lado de cacilhas um pequeno feixe de luz aguarda a sua vez para nos guiar pelo breu do mundo. E se for segunda-feira hei-de sair pelo menos ás nove, desvairado, para irmos ver o filme. E se tivermos sorte, ou se acreditarmos na nossa sorte, na onda de ficções com legendas, com actores conhecidos, com enredos referenciados e estrelados pela crítica, diremos diante de "Vai com o vento", em uníssono, "olha, apetecia-me ver este." E vamos mesmo ver esse. "Vai com o Vento" do Ivo Ferreira, mais uma curta, Estrangeiro, que tem um texto delicioso. Nunca mais vou olhar um chinês ou uma chinesa da mesma maneira. A partir de agora são gente, gente como eu, ou tu, ou nós. Dois filmes deliciosos de um cineasta novo mas que já tem uma imagem do mundo muito própria. E - não tivesse ele crescido tão dentro do teatro - que tem um ritmo, uma musicalidade, uma escuta tão forte. A voz do narrador chinês é narração-prazer. Todos os dias são dias e as noites também são dias, novos dias.

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