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sexta-feira, maio 14, 2010

Agradaram-me as palavras do Papa sobre a IVG. É já tempo de a Igreja perceber que essa ideia de que somos um povo com grandes tradições católicas tem de corresponder a um enorme sentido da sua responsabilidade social com grandes capacidades de influenciar a vida das pessoas ( o uso do preservativo, por exemplo) e que, no caso da Interrupção Voluntária da Gravidez, tem de centrar o seu discurso "no combate às condições sócio económicas que levam as pessoas a abortar" e não na demonização da IGV, dos que a fazem, dos que defendem o direito daqueles que a fazem a fazerem-no nas melhores condições e com o apoio da saúde pública. É claro que as suas posições em relação ao casamento entre homens nos levam a reconhecer que a este nível doutrinário a Igreja talvez só mude para não conflituar com os poderes terrenos que lhe podem fazer frente e que esse aspecto a aproxima demasiado daquela Igreja colaboracionista e cúmplice, de má memória, que nós já cá tivemos. É por isso que aquele prédio devoluto no fim da Rua da Padaria, guardado por arcanjos, esventrado na sua relação com o Céu, a quem já ninguém liga, me pareceu uma metáfora tão perfeita da Igreja de hoje.

sábado, abril 03, 2010

Deles será o reino dos céus

É algo reconfortante que as palavras mais humildes vindas do coração da Igreja tenham vindo de Lisboa, de D. Policarpo. Esperemos por isso que o pregador do Vaticano, o único que detém o privilégio de falar para o Papa, não seja o único a quem o Papa ouve. Ou que reproduza o que o Papa gostaria de poder dizer, se não fosse o chefe do Vaticano. É importante no entanto percebermos que, para todos nós, crentes e não crentes, o que está verdadeiramente em causa para o papel da Igreja no mundo não são os crimes de pedofilia praticados pelos seus representantes na comunidade, sim a forma como a ICAR os silenciou, encobriu, camuflou ou relativizou.

É claro que por arrasto estará também tudo em causa principalmente a forma como não percebeu que o espartilho da não sexualidade - já para não referir o da não conjugalidade - imposto aos seus representantes da comunidade, não sendo mais sustentável na sociedade do século XXI, coloca os padres numa posição de grande fragilidade em relação ao mundo sobre o qual oram. A própria comunidade católica, apostólica e romana - feita de homens e mulheres comuns - também já vive a sua sexualidade de uma forma completamente diferente.

Ler aqui, no Jumento, Dia do Judeu.

quinta-feira, março 27, 2008

Ressurreição

Era domingo de Páscoa numa pequena igreja em Sintra. A liberdade é isto, podermos fazer o que nos dá na real gana e assim, sem necessidade de outras justificações, vi-me a mim mesmo, agnóstico confesso, num tempo, numa filial da ICAR, a assistir a uma missa que integrou um baptismo. É certo que fiquei em pé - e não foi para relembrar o sofrimento das minhas missas de juventude, em que contava mentalmente as páginas do missal para saber quanto tempo ainda tinha de missa - mas para que a qualquer momento pudesse sair. E não o fiz por outra razão que não o frio que se entranhava pela noite de Sintra: comecei a olhar aqueles crentes, um a um. Os que cantavam, os que liam, os que genuflectiam. Os que ouviam o sermão. Lembrei-me também do meu pai. Até aí eu nunca tinha conseguido imaginar o meu pai no púlpito. Sei que ele foi padre, já aqui falei várias vezes disso. Mas não o imagino no púlpito. Na memória que tenho ele é demasiado humano para o conseguir imaginar vestido com aqueles hábitos, a pregar. E, contaram-me, o meu pai era um daqueles padres oradores, a quem eram entregues recorrentemente os actos de pregação.
O padre que eu ouvi, embora utilizasse uma expressão chã, simples, que potenciava a comunicação com os fiéis, não era um tribuno muito eloquente. Nem tinha grande rasgo nem especiais efeitos de oratória. Talvez por isso, passados cinco minutos em que os seus truques de prosódia se revelaram, centrei-me nos fiéis. Ali, iluminados pelo calor das velas, daquela luminosidade ténue, não me pareciam iguais a todas as pessoas que encontro na rua. Algumas cantavam e as suas vozes trabalhadas ressoavam pela igreja. Outras liam, e faziam-no com solenidade. Estavam serenos a ouvir a pregação. O tema era a ressurreição. O padre ligou o tema à ecologia, ao cuidado com o mundo, à preocupação com a energia, com a água - a fonte de tantas guerras disse - com aqueles que sofrem. O discurso nada tinha de relevante. A única coisa que ali se distinguia era a minha surpresa por me ter tornado incapaz de pensar que os católicos, quando reunidos, falem do mundo em que vivem. Olhei os fiéis, tentando perceber de que forma é que tudo isto actua, produz sentido na vida quotidiana em que me cruzo com muitas destas pessoas, a maior parte das quais não conheço.
É extraordinário para um agnóstico há muito afastado com a igreja dar-me conta deste espaço de doutrinação, de apologética, em que se constitui um sermão, uma pregação. Estas pessoas vêm todas as semanas sentar-se aqui para escutarem um homem, que lhes é apresentado como seu pastor espiritual, e que lhes fala de livros, das Escrituras, do Evangelho. Vou imaginar que não conheço a ICAR ( o que não deixa de ser verdade, eu creio que é por isso, por já a conhecermos tão bem que a deixamos de conhecer e é por isso também que de repente algo se descontextualiza e surge o espanto). Um livro é um livro em qualquer parte do mundo, é cultura. Aquelas pessoas vêm das suas casas a uma determinada hora de domingo para se sentirem irmanadas. Quer dizer, irmãs. Vêm partilhar uma mesma visão hermenêutica de um livro. É engraçado, muitas daquelas pessoas são capazes de dizer que há muito não lêem um livro. É também verdade que o Evangelho, se tornou muito menos livro e muito mais pedra.
O que vejo agora: uma centena de pessoas em torno de um livro, de uma parábola, de um sermão, de uma ideia de procura espiritual. Não esqueço o resto. Não esqueço Caeiro, e tudo no céu era estúpido como a Igreja Católica. Não me detenho nas suas qualidades nem nos seus (imensos) defeitos. Aqueles não são a minha tribo, se algum dia a tiver. Eu, que também procuro os meus irmãos, a minha irmandade, a minha fraternidade, como diz a minha mãe, quando se refere aos seus franciscanos. Mas fico ali, a ver aquele trabalho de iluminação interior daquelas pessoas que estão na igreja. A forma como entoam as vozes e nesse ressoar está toda uma devoção ao céu, à religião, ao infinito. Não me parecem muito diferentes daqueles que se encontram num espectáculo, seja ele de teatro, de música, de poesia. Saio para a serra de Sintra um pouco mais humano, ou melhor, a imaginar-me num mundo um pouco mais feito de carne e osso.

quinta-feira, julho 12, 2007

Humor na ICAR

Não deixa de ter piada a Igreja Católica Apostólica Romana vir falar em clima de ameaça à liberdade de informação e expressão.