domingo, abril 22, 2007

Intranheza

Tudo isto tem daquele humor que salga a vida: por vezes nos meus dias dou-me conta de uma estranheza, uma fina película de estranheza que me cobre os gestos, o olhar e que me faz perguntar o que faço aqui nestes lugares a que chamo meus, com estas pessoas a que chamo minhas. Sorrio. Não são sempre estes momentos, são por vezes, e até, poucas vezes. E já não me assustam, nem me entristecem, nem me perturbam, como aconteceu tantas vezes, ciclicamente, desde a minha infância. É essa estranheza que me intranha dentro de mim, que me torna próximo, que me diz que depois de tantas vidas e tantas mortes, ainda sou eu a transportar os meus dias. Sorrio, esses meus momentos fazem-me descansar da realidade. São um pouco como aquele tirar dos óculos da minha amiga a deixar os seus olhos míopes navegarem por sombras, contornos, pedaços de luz.

2 comentários:

Mónica (em Campanhã) disse...

conheço essa intranheza, é-me cíclica, instantânea

Sarah disse...

por vezes essa estranheza não é suportável para mim, e por isso varro-a com um sopro de vento que a leva para outras paragens, e talvez por vezes até ti. essa estranheza passou por mim hoje de tarde, quando escrevendo me faltaram palavras para falar da voz, e eu fiquei aterrada nesse silêncio que vai entre a que vive e a que escreve.