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quarta-feira, abril 18, 2007

Contra o fanatismo

" No entanto, não afirmo que qualquer um que levante a voz contra alguma coisa seja um fanático. Não sugiro que qualquer um que manifeste opiniões veementes seja um fanático, claro que não. Digo que a semente do fanatismo brota ao adoptar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos. É uma praga muito comum que, certamente, se manifesta em diferentes graus. "
Amoz Oz
Cruzo Amoz Oz com Ken Wilber, Uma Teoria de Tudo. O fanatismo situa-se no Meme Azul: Ordem Mítica e (segundo os estudos de Don Beck e Chris Cowan (Spiral Dinamics: Mastering Values, Leadership and Change (Cambridge, Mass. :Blackwell Publishers, 1995) representa 40 % da população mundial, detentora de 30 % do poder. Como estes diferentes níveis não são estanques, há uma oscilação de discurso com os memes que o antecedem. Não sei quais os parâmetros de avaliação do poder, utilizados pelos investigadores neste estudo. Ou para ser mais concreto, o peso que a possibilidade de dominar o processo de comunicação é entendido para a determinação da percentagem de poder concentrado num determinado meme da espiral. Porque, e estando no terreno especulativo a partir das conclusões de Beck e Cowan, sendo já muito grave que em pleno século XXI 40% da população mundial, detentora de 30 % do poder esteja vinculada ao fanatismo, o mais preocupante é sabermos, dados os processos próprios da dinâmica comunicacional, que, em momentos de crispação aguda, o ensurdecer fanático pareça ser a única voz audível no planeta global.
Amoz Oz e Ken Wilber são rigorosos na percepção da condição de sobrevivência do fanatismo: a necessidade de aniquilar o outro. Por isso quando perguntarmos o que fazer face a este cenário incendiário deveremos pensar também em construir formas de reconhecimento, e prevenção, das tentativas forçadas de criar períodos ou momentos de crispação absoluta, que são, sublinhe-se, os modos do existir fanático. É que depois já pouco se pode fazer. Tudo é propaganda e o próprio gesto pacífico e não violento pode ser utilizado como material combustível para incendiar de novo o terreno. Tem de ser antes. Porque provavelmente não é uma luta do fanatismo contra o pragmatismo como anuncia Amoz Oz. Ou talvez não seja a melhor maneira de a dizer. É uma luta do fanatismo contra o fanatismo, que tende a desmobilizar o pragmatismo. Essa é a grande e terrível questão: o chegarmos a admitir que para combater o fanatismo temos de ter um fanatismo sem limites. Ou seja, a abandonarmos o pragmatismo, a convivialidade, a integração.

quarta-feira, abril 04, 2007

Um amigo para as questões mais difíceis

Já falei disso aqui, tenho estado a ler Uma Teoria de Tudo, de Ken Wilber. E sigo-o cada vez com mais interesse. Tenho alguma vergonha em dizê-lo, os meus mais pequenos e únicos ismos (relativismo, pós-modernismo, cepticismo, agnosticismo, pessimismo) vão ficar mal no retrato, mas este diálogo com o livro está-me a tornar mais optimista na minha relação com o mundo. Não sei explicá-lo com exactidão: da mesma forma que o final dos anos noventa, com o fim da guerra fria, a queda do muro, a desagregação da União Soviética, tinham significado uma abertura sobre a possibilidade de um retorno mundial à justiça e à política, os anos noventa foram terríveis em relação à minha confiança no futuro da humanidade. E foram tão terríveis e tão demolidores que no princípio do novo século, nos seus primeiros anos, não restava nada. O mundo começava a ser para mim um lugar de uma profunda desafecção e quase desagregação do pensamento, e não fosse aquela mão de petiz que se entrelaçava na minha e me entusiasmava para a descoberta, para a vida, para uma outra política que lhe permitiria poder viver num mundo melhor ( o tempo de aprender finalmente a reciclar lixo, a ter atenção aos materiais e recipientes que compro, etc) seria bem o meu suícidio espiritual. O estilhaçar da minha crença de que era possível fazer alguma coisa teve aliás um final curioso: ainda me cheguei a inscrever num partido mas a minha militância não durou mais do que alguns meses e só teve como facto positivo a circunstância de encarar a actividade partidária com muito mais bonomia e compreensão do que dantes, não partilhando hoje os discursos derrotistas sobre o malefício dos partidos para a vida cívica que já subscrevi. E se de todas as teorias que conheci a da tolerância foi aquela que, desde sempre, maior eco teve em mim, parecia que o meu intenso relativismo tinha aumentado em muito a minha aceitação do outro. E ao mesmo tempo crescia em mim um profundo desapego por algum tipo de manifestação de poder. Eu nunca tive vocação para líder, embora com o tempo fosse adquirindo algumas capacidades intelectuais que os políticos gostam de pensar que não são antitéticas com o exercício do poder. E por isso fui às vezes empurrado para situações de chefia ou - eufemismo muito caro àqueles tipos como eu que lidam mal com o poder mas estão embevecidos com um qualquer dinamismo - de coordenação. Por um misto de clarividência e de azedume, desde a deriva direitista do Durão e Portas se ter instalado no poder e na administração pública, interiorizou-se em mim um tal distanciamento em relação à política, ao exercício do poder, que nem mesmo a admito para lutar contra aquelas situações que me parecem injustas e até, inadmíssiveis. Nos meus momentos inspirados penso que há-de haver um outro caminho para lutar contra aquilo que me parece uma falta de capacidade daqueles que me rodeiam, aos mais diversos níveis da actividade, do que ter de me pensar como mais capaz do que os outros. É claro que este tipo de pensamento pode parecer que ruma para a inércia e para o conformismo. Principalmente quando a medida que se instalou por todo o lado, nos media, no trabalho, nas ruas, nos lares, é a de um estado eufórico do sujeito em relação às suas capacidades, à sua valia. É por isso que a leitura de Uma teoria de tudo de Ken Wilber me tem sido tão agradável. Tive um livro assim no Exame de Consciência, do Somerset Maughan, na minha adolescência. Ou, poucos anos mais tarde, O Choque do Futuro, de Alvin Tofller. E A Era do Vazio, de Giles Lipotevski, já nos anos noventa. A Loucura da Normalidade, de Arno Gruen, nos últimos anos. É como se um livro pudesse voltar a ser um amigo que se senta ao meu lado e que me ouve rumorejar, acompanhando-me nas questões mais difíceis.

sexta-feira, março 30, 2007

Leituras: "A dinâmica da espiral"

Não é a tradicional pirâmide com que nos habituámos a estratificar a nossa sociedade, as nossas necessidades. Estamos no tempo dos memes, do integralismo, do holístico. É uma espiral de cores e categorias que - segundo Don Beck e Christopher Cowan, - vão do Arcaico-Instintivo até Holístico, passando pelo mágico-animista, pelos deuses do poder, pela ordem mítica, pela descoberta científica, pelo eu sensível e pelo integrador. Os primeiros seis níveis ou categorias são de "subsistência", marcados por um pensamento de primeira camada. Só a partir deles começamos a observar uma mudança revolucionária da consciência com o aparecimento de "Níveis do ser" e de pensamento de segunda camada. Um aspecto curioso do trabalho destes cientistas é o cálculo da percentagem da população mundial que vive em cada uma das ondas da espiral. Os grandes dois polos são o da ordem mítica (onde encontramos o fundamentalismo religioso, o patriotismo, a américa puritana) com 40 por cento da população e 30% do poder, e o da Descoberta Científica ( patente na banca, na bolsa, no materialismo, a competição, etc) com 30% da população e 50% do poder. Há ainda, com uma expressão considerável, os Deuses do Poder, com 20% da população e 5% do poder. O resto são franjas. O Arcaico-Instintivo e o Mágico Animista, com 10% da população têm 1% do poder, e as ondas da segunda camada são partilhadas por menos de dois por cento da população detendo seis por cento do poder. O que, a fiarmo-nos nesta teoria, parece não nos inspirar grandes optimismos. Esta bipolarização entre fundamentalismo e razão é factor gerador de preocupação. E a aliança entre os Deuses do Poder (onde se instalam as redes de narcotráfico, do gangs e a pirataria) e a ordem mítica, também. Para além do mais estes movimentos, estas ondas não são estáticas e há, circunstancialmente, possibilidade de uma reorganização provocando uma concentração num determinado campo. Lembremo-nos o que aconteceu na altura do ataque ao Iraque, do terrorismo, das caricaturas. Independentemente da sua solidez ética e intelectual quando alguém se sente ameaçado regride e procura a tribo, a matilha, o grupo. Há um aspecto no meio de tudo isto que pode provocar alguma esperança. No nível integrador, um por cento da população detém cinco por cento do poder. E no holístico, 0,1, detém 1 %.

quinta-feira, março 29, 2007

Leituras: "O rancor intelectual"

" Pode uma visão integral existir no clima contemporâneo de guerras de cultura, políticas de identidade, milhões de novos paradigmas em conflito, pós-modernismo desconstrutivista, nilismo, relativismo pluralista e políticas do eu? Pode uma Teoria de Tudo ser reconhecida, já para não falar em ser aceite, num tal estado cultural? Não estarão as próprias elites culturais num estado mais fragmentado e rancoroso do que nunca? Talvez as massas da humanidade sejam propensas a guerras tribais e a limpezas étnicas; mas que fazer se a própria elite cultural também manifesta a mesma inclinação?"
Ken Wilber, Uma Teoria de Tudo, estrela polar, 2000